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G1

Clientes denunciam calote de agência de turismo voltada para solteiros

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Single Trips responde a mais de 40 processos na Justiça. Vítimas dizem que pacotes são cancelados na véspera das viagens, sem devolução do dinheiro. 'É um estelionato do lazer', diz funcionária pública lesada. Anúncio da Single Trips no Instagram

Reprodução/Rede social

Moradores do Rio de Janeiro denunciam que levaram calote de uma agência de viagens que se especializou em roteiros para solteiros. A Single Trips, que fica em São Paulo, está na mira da polícia e da Justiça.

A empresa é acusada de vender pacotes e, faltando poucas horas para as viagens, cancelá-los — e sem devolver o dinheiro de clientes que desistiram das excursões. Uma das vítimas, uma funcionária pública da capital fluminense, diz que foi lesada em mais de R$ 50 mil.

De acordo com outras vítimas e ex-funcionários, o prejuízo de clientes pode ultrapassar R$ 1 milhão.

Os problemas na Single Trips teriam começado há quase 1 ano, após a morte da empresária Renata Guedes Batista. Quem assumiu o comando da empresa foi o marido de Renata, Petrus Engeland, conhecido como Peter.

Em nota, Peter admitiu "que a empresa está passando por algumas dificuldades como qualquer outra empresa brasileira passa". Ainda de acordo com o comunicado, a agência informou "que teve imprevistos durante os últimos roteiros", mas que "já está sendo resolvido pelo departamento financeiro com os clientes que se sentiram lesados" (veja a nota completa ao fim desta reportagem).

Renata Guedes e Petrus Henricus

Reprodução/TV Globo

Ex-funcionária percebeu irregularidades

Fundada em 2015 com o objetivo de juntar solteiros em viagens pelo mundo, a empresa oferece pacotes nacionais e internacionais com valores a partir de R$ 15 mil. As mulheres representam a maior parte do público e são as principais vítimas.

A guia Luciana Eleonora trabalhou na empresa por 3 anos. Ela conta que saiu há 3 meses após notar os problemas.

Agência de viagens se especializa em passeios apenas para solteiros e prevê faturamento de R$ 10 milhões

"A Renata sempre foi muito dedicada à empresa, e a Single funcionou muito bem por 9 anos. Tinha um nicho muito bom e uma referência no que fazia. Mas, após a morte dela, começaram os problemas. Num primeiro momento, o atraso dos nossos salários", conta.

"Trabalhávamos 3, 4 meses, e não recebíamos. No final do ano passado, fiz uma viagem e, em abril, eu não tinha recebido. Mandei uma mensagem para o Peter cobrando R$ 12 mil. Ele me respondeu muito ríspido, mal-educado, e disse que eu não faria mais parte da empresa", lembra Luciana.

A profissional contou que, após uma conversa, Peter pagou o que lhe devia e a partir de sua saída da empresa começou a descobrir as irregularidades.

"As pessoas que já tinham viajado comigo passaram a me ligar perguntando o que estava acontecendo. Elas diziam que as viagens estavam sendo canceladas em cima da hora. Isso nunca tinha acontecido. Viagens marcadas para Barcelona, Portugal, Grécia etc não foram feitas, e não há previsão para que elas aconteçam", fala.

"Além disso, quem não quer mais viajar e pede a devolução, pagando a multa, ele [Peter] não faz o estorno. A sensação é que ele não está nem aí. E pior. Eles continuam vendendo pacotes como se nada estivesse acontecendo", conta a mulher.

Farmacêutica gastou R$ 25 mil e não viajou

Brígida Abrão Podestá em viagem à Bahia

Arquivo pessoal

A farmacêutica Brígida Abrão Podestá diz que é uma das lesadas pela empresa de turismo. Ela conta que já tinha viajado com Single Trips outras vezes e que no ano passado decidiu comprar um pacote completo para Portugal e Espanha no valor de R$ 25 mil — com hospedagens, passeios e passagens aéreas —, que aconteceria entre os dias 18 e 31 de maio.

No entanto, faltando 48 horas para a viagem, no dia 16 de maio, ela recebeu um comunicado por e-mail informando sobre o cancelamento. Desde então, ela tenta reaver o valor pago.

"Eu me programei, tirei férias para realizar esse sonho. No ano passado, quando estávamos em Itacaré, na Bahia, eles lançaram esse pacote. Como eu queria muito ir, logo fechei com eles. Paguei a parte terrestre, que são as hospedagens, os translados e os passeios, R$ 18 mil em quatro vezes. Já os R$ 7 mil das passagens aéreas eu parcelei e, inclusive, paguei uma neste mês. A viagem seria num sábado à tarde", diz Brígida.

"Mas, na noite da quinta-feira, faltando menos de 48 horas, eles mandaram um comunicado cancelando e alegando motivos internos. Sem acreditar, eu li umas 10 vezes. Eu já estava com malas prontas para realizar esse sonho. Liguei várias vezes para entender e nada de atenderem".

Como mora perto da empresa, a farmacêutica decidiu ir até lá.

"Chegando lá, não tinha ninguém. O porteiro disse que eles não apareciam lá há meses. Voltei para casa sem acreditar no golpe. Continuei ligando até que atenderam e eu pedi para ir lá. Na semana seguinte, o Peter me atendeu, deu uma desculpa de que teve problemas na Espanha com o receptor (a pessoa que iria nos receber e nos guiar nos passeios) e devolveria o meu dinheiro. Ele ainda fez uma declaração se comprometendo a resolver o problema. Mas, desde então, sumiu".

Sede da Single Trips em Perdizes, SP

Reprodução

Com receio de não conseguir reaver o valor investido na viagem, Brígida entrou na Justiça contra a agência de viagens.

"Fui na delegacia, registrei um boletim de ocorrência e me orientaram a acioná-los judicialmente. E foi isso que fiz. As pessoas lutam, guardam dinheiro para realizar um sonho e eles brincando com isso. É uma sacanagem. Eles estão destruindo aquilo que planejamos com muito sacrifício."

"Para se ter ideia, uma amiga da minha irmã, que comprou um pacote para Cancún, no México, há 1 ano, está na luta para recuperar o dinheiro. Não fizeram a viagem e também não devolvem o dinheiro".

Documento com assinatura de Peter se comprometendo a devolver o dinheiro para Brígida

Arquivo pessoal

Uma outra cliente, de 65 anos, que faria a mesma viagem que a farmacêutica, conta que gastou R$ 22 mil. A aposentada prefere não se identificar.

Num primeiro momento, ela diz que foi orientada a trocar o pacote. Como confiava na empresa, após viajar sete vezes com a Single Trips, ela aceitou fazer a troca para uma viagem que programada para setembro, com quatro destinos na Europa: Alemanha, Holanda, Bélgica e Luxemburgo. Mas, após os problemas, ela não acredita que a empresa cumprirá o contrato.

"Estou decepcionada, porque é um sonho que eles destruíram. É uma tristeza, não só pelo dinheiro. É um sonho que acabou. Fomos lesadas. Houve um estelionato. Sou uma idosa e não vou me aventurar em qualquer agência. Eu confiava neles. Agora, de repente, você descobre que eles respondem a mais de 37 processos de descumprimento de obrigações", lamenta a mulher.

'É um estelionato do lazer', diz mulher que foi lesada

A Single Trips se especializou em um nicho de mercado para se diferenciar da concorrência, com roteiros para finais de semana e outros mais longos, para quem está de férias.

Para baratear as viagens, os clientes eram alocados em quartos duplos. Em 2021, a empresa disse que faturou R$ 2,3 milhões e tinha previsão de lucrar R$ 10 milhões em 2022. Menos de 2 anos depois, os problemas começaram.

Uma funcionária pública do RJ comprou dois pacotes por quase R$ 50 mil nesse ano, mas não conseguiu viajar.

"Eu comprei um pacote, de R$ 21 mil, em janeiro, para Barcelona e para as Ilhas Baleares. A viagem seria no dia 8 de junho. Mas, do mesmo jeito dos outros casos, eles cancelaram em cima da hora. Já estava tudo pronto, malas prontas. Eles mandaram uma mensagem super fria dizendo que não haveria mais viagens por decisão política da empresa e pediram pra entrar em contato para reaver o dinheiro. Mas, desde então, eles não atendem ou respondem os e-mails", relata.

Ela diz que se trata de um caso de estelionato e que outras vítimas fizeram reclamações em sites especializados.

"No site ReclameAqui existem várias denúncias. Eu coloquei uma reclamação nas redes sociais deles, mas foram lá e apagaram. Mas eles continuam vendendo passagens. E para piorar, eu tenho um outro pacote comprado para setembro. Eu queria ir para Luxemburgo, Bélgica e Amsterdam. Mas é obvio que não vamos, né?"

"O que eles estão fazendo é crime. É um estelionato do lazer. O solteiro além de estar sujeito ao estelionato sentimental, está sujeito ao estelionato do entretenimento. Eles não estão fazendo o turismo prometido e ainda continuam fazendo propagandas nas redes sociais. Eles estão obtendo vantagem econômica indevida Eu vou registrar um boletim de ocorrência contra eles e vou entrar na Justiça",

Mais de 40 processos

Atualmente, a Single Trips responde a pelo menos 42 processos em tribunais do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Paraná por descumprimento de acordos em pacotes de viagens. Quinze desses processos correm em varas de São Paulo.

Os clientes pedem a rescisão dos contratos e a devolução do dinheiro; a responsabilização da empresa pelo descumprimento do que foi prometido; o cumprimento das obrigações do contrato e indenização por danos morais.

Em nota, a Polícia Civil de SP informou que tem conhecimento de uma ocorrência envolvendo uma mulher, de 36 anos, que foi vítima de estelionato após ter comprado um pacote de viagem para o Peru com a Single Trips.

Ainda de acordo com a corporação, o caso será investigado pelo 4º Distrito Policial (Consolação). A Polícia Civil paulista pediu que outras pessoas que foram vítimas da Single Trips registrem boletins de ocorrência – para prosseguimento das investigações.

A Polícia Civil do RJ informou que não conseguiu localizar registros contra a empresa no estado.

O que diz a Single Trips

Ao g1, através de uma nota, o empresário Petrus Engeland disse que "atualmente nossa empresa está passando por algumas dificuldades como qualquer outra empresa brasileira passa".

E que "de fato tivemos alguns imprevistos durante os nossos últimos roteiros e já está sendo resolvido pelo nosso departamento financeiro com os clientes que se sentiram lesados e já começamos a fazer acordo com os mesmos".

No documento, Petrus diz que a Single Trips está "com funcionamento normal", mas que trabalha "com horário marcado". Disse ainda que as viagens estão acontecendo normalmente e que nenhum cliente ficou sem retorno. O empresário, no entanto, não comentou sobre os processos judiciais.

Nota da empresa:

"Atualmente nossa empresa está passando por algumas dificuldades como qualquer outra empresa brasileira passa. De fato, tivemos alguns imprevistos durante os nossos últimos roteiros e já está sendo resolvido pelo nosso departamento financeiro com os clientes que se sentiram lesados e já começamos a fazer acordo com os mesmos. E estamos com funcionamento normal no nosso escritório. Mas trabalhamos com horário marcado, não é uma loja!"

"E as viagens estão acontecendo, inclusive acabamos de voltar de São Miguel do Gostoso. No próximo final de semana teremos Tapiraí, e julho mais 4 viagens e todas irão acontecer. Não estamos deixando ninguém sem um respaldo. Nosso setor jurídico representado por nosso advogado está à disposição para maiores esclarecimentos".

G1

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