Segundo o documento, não foram encontrados indícios de manipulação manual ou por máquinas na estrutura que colapsou durante treinamento de 28 bombeiros civis e instrutores. Delegado descarta crime e mantém possível atribuição civil da empresa responsável pelo curso. Técnicos encontraram fissuras e pontos de umidade em gruta que desmoronou em Altinópolis, SP
Reprodução
O laudo da perícia técnica da Polícia Civil descartou ação humana na Gruta Duas Bocas, que desmoronou em Altinópolis (SP) na madrugada de 31 de outubro e deixou nove bombeiros civis mortos durante um treinamento, mas não conseguiu definir o que causou o acidente.
De acordo com o documento assinado pelo perito criminal Hugo Ribeirão Morais na segunda-feira (22), do qual o g1 teve acesso, a equipe não encontrou elementos de descolamento intencional da estrutura de arenito, sinais de escavação e máquinas e ferramentas que pudessem ter sido usadas para mexer no local.
Os peritos encontraram, apenas, a presença de manchas de umidade na gruta, já que chovia no momento do acidente. Além disso, precipitações foram registrada na cidade e na região na semana que antecedeu o desabamento e durante as buscas.
O laudo pericial vai ao encontro de uma das hipóteses do delegado Rodrigo Salvino Patto, que investiga o caso. No início do mês, após ouvir depoimentos de 11 testemunhas sobreviventes e do empresário Sebastião Abreu, proprietário da Real Life, escola responsável pelo treinamento dos bombeiros civis, ele afirmou que os indícios apontavam para um fato extraordinário da natureza.
Nesta terça-feira (23), Patto afirmou que, neste caso, não há responsabilidade criminal no acidente.
“Há que se salientar que isso não afasta a responsabilidade civil da empresa, ou seja, a obrigação dela de reparar o dano causado direta ou indiretamente em todas as famílias das vítimas deste trágico acidente”, disse.
Delegado Rodrigo Salvino Patto, responsável pelas investigações do desmoronamento em uma gruta de Altinópolis, SP
Reprodução/EPTV
Ciclos do arenito
Ainda segundo o laudo, a gruta composta por arenitos de granulação que vão de fina a média encontrava-se bem preservada e apresentava pouco impacto ambiental.
No entanto, é comum que, ao longo dos anos e com o contato com a água, haja um processo de encharcamento e perda do formato original da rocha.
Com isso, ela volta ao formato de areia e o ciclo até a formação de novas rochas é iniciado de forma natural. As alterações, de acordo com o laudo, podem causar o colapso da estrutura, levando ao desabamento.
“Por fim, não foi possível precisar o elemento único e/ou a conjuntura isolada causadora do desabamento, baseando este perito relator nas características ambientais, com presença de chuvas intensas tanto quando dos fatos como quando dos exames, assim como baseando-se nas características descritivas da gruta e nas circunstâncias porventura causadoras de perda de sua estabilização”, afirmou o perito no laudo.
Bombeiros durante trabalho de resgate das vítimas soterradas na Gruta Duas Bocas em Altinópolis, SP
Divulgação
Grupo queria deixar o local
No início de novembro, em depoimento à Polícia Civil de Altinópolis, um dos instrutores disse que o grupo já pretendia deixar a gruta momentos antes do acidente, mas por conta da forte chuva, a saída foi impossibilitada.
Segundo Rafael Sordi, todos ficaram dentro da gruta por questões de segurança. Ele e outras testemunhas ainda falaram que o instrutor Celso Galina Júnior, um dos mortos na tragédia, vistoriou a gruta dias antes ao treinamento. Além disso, uma nova avaliação foi feita no dia do acidente.
Também em depoimento ao delegado e investigadores, o proprietário da Real Life, Sebastião Abreu, falou em fatalidade.
Equipes durante o trabalho de resgate na Gruta Duas Bocas, em Altinópolis, SP
Fabio Junior/EPTV
Acidente em gruta
O teto da Gruta Duas Bocas desmoronou na madrugada de 31 de outubro durante o treinamento de um grupo formado por 28 bombeiros civis e instrutores.
Eles faziam um treinamento no interior da caverna. O procedimento, no entanto, não havia sido comunicado anteriormente à Defesa Civil e ao Corpo de Bombeiros.
Após o colapso da estrutura, parte do grupo ficou retida. Nove pessoas morreram e uma foi socorrida com vida pelo Corpo de Bombeiros e levada à Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Walace Ricardo da Silva recebeu alta médica no dia 10.
Cronologia do acidente
Sábado (30)
17h: um grupo de 28 instrutores e bombeiros civis começa treinamento de busca e resgate de vítimas em caverna na Gruta Duas Bocas, em Altinópolis; eles passariam a noite no local como parte do curso
Domingo (31)
1h: Corpo de Bombeiros é acionado para atender ocorrência de desmoronamento; a primeira informação era de que 15 pessoas estavam soterradas na Gruta Duas Bocas
2h: Resgate tem início com equipes dos bombeiros; chuva intensa dificulta trabalho
9h30: Corpo de Bombeiros atualiza número total de vítimas soterradas para 12
9h45: Primeira vítima soterrada é retirada com vida da caverna; outras cinco pessoas que ficaram parcialmente presas ou tiveram ferimentos leves são socorridas para hospitais de Batatais e Altinópolis
13h: Corpo de Bombeiros localiza a primeira vítima morta; é uma mulher
13h50: equipe formada por socorristas e geólogo enviada pelo governo do estado chega ao local do acidente; posto unificado é montado com membros da PM, Polícia Civil, Instituto de Criminalística, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e da prefeitura
15h: Corpo de Bombeiros atualiza número total de vítimas soterradas para 10
15h20: Segunda vítima soterrada é localizada sem vida pelas equipes; sete continuam desaparecidos
15h57: Terceira vítima soterrada é localizada sem vida pelas equipes; seis continuam desaparecidos
16h: médico do Grupo de Resgate e Atenção às Urgências (GRAU), Leandro Mota, diz que a principal dificuldade no resgate é o risco de novos desabamentos na caverna
17h37: Mais duas mortes são confirmadas pelo Corpo de Bombeiros e o número de vítimas vai a cinco; quatro seguem desaparecidos
18h02: Número de mortos sobe para sete após o resgate de mais duas vítimas; dois seguem desaparecidos
18h44: bombeiros localizam as duas últimas vítimas desaparecidas e encerram as buscas; nove morrem
20h30: as vítimas são identificadas pela Polícia Militar; são cinco homens e quatro mulheres
22h30: Corpo de Bombeiros termina de transportar os últimos quatro corpos para a base de apoio.
Desmoronamento de gruta em Altinópolis, SP
Arte/G1
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