Perícia conclui que máquina de cigarros encontrada na Penha não era a furtada da Cidade da Polícia

Em março, corporação afirmou que maquinário era o mesmo furtado de dentro do complexo de delegacias, na Zona Norte, e que estava sendo descaracterizado. No entanto, uma análise pericial constatou que o objeto era outro. Equipamento furtado segue desaparecido. Máquina de cigarros que teve que ser devolvida aos donos

Divulgação

Após fazer uma perícia, sem alarde, no último dia 24 de abril, a Polícia Civil do RJ devolveu à empresa Vera Cruz Tabacos uma máquina de cigarros de cerca de 5 toneladas e avaliada em mais de R$ 1 milhão apreendida em março, em um galpão no Mercadão São Sebastião, na Penha, na Zona Norte.

À ocasião, a instituição afirmou que o equipamento modelo MK8 PA7 era o mesmo que havia sido furtado da Cidade da Polícia (Cidpol) — o centro de comando da Polícia Civil no estado — em fevereiro de 2023.

O objeto furtado, que tem mais de 6 metros de comprimento e quase 2 metros de altura, foi levado na calada da noite — e a polícia só descobriu que a máquina havia sumido quatro meses depois.

O local onde o maquinário estava guardado — na Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas — fica numa área que abriga 15 delegacias especializadas, órgãos ligados à chefia da corporação e onde trabalham mais de 3 mil pessoas. Ninguém viu nada e nenhuma câmera de segurança registrou o crime.

Antes de ser apreendida, máquina estava em uma fábrica de Duque de Caxias

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A máquina que não era a máquina

Em 22 de março, a Corregedoria Interna da Polícia Civil e a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) foram até um galpão alugado pela Vera Cruz Tabacos, no Mercado São Sebastião, e apreenderam um maquinário semelhante ao levado da Cidade da Polícia.

Naquela ocasião, os agentes cumpriam um mandado de busca e apreensão expedido pelo juiz Orlando Eliazaro Feitosa, que estava de plantão no Tribunal de Justiça. Os investigadores sustentaram que haviam recebido denúncias anônimas que indicavam que o espaço abrigava o material levado pelos criminosos.

Relembre abaixo a reportagem sobre a investigação do sumiço da máquina:

Máquina de fazer cigarro que mede 6 m e pesa mais de 5 t é furtada de dentro da Cidade da Polícia

No dia das buscas, os advogados da empresa chegaram a apresentar notas fiscais provando que a máquina não era a mesma levada por bandidos. Mesmo assim, o trambolho — que tem capacidade para produzir 2,5 mil cigarros por minuto — foi apreendido e foi transportado em pelo menos 3 caminhões para a Cidade da Polícia.

À época, o secretário da Polícia Civil, o delegado Marcus Vinícius Amim Fernandes, foi às redes sociais para divulgar que o objeto furtado da Cidpol havia sido encontrado pela corporação. Os investigadores também informaram que a máquina de cigarros havia sido pintada de outras cores para despistar.

Máquina de cigarros pertence a empresa Vera Cruz Tabacos LTDA

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No entanto, uma perícia do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) mostrou que o equipamento apreendido na Penha não era o mesmo levado por bandidos. Por conta disso, a Polícia Civil teve que devolver a máquina aos donos.

"Oportunamente, o maquinário foi submetido a exame pericial que ficou constatado não se tratar as máquinas subtraídas da Cidade da Polícia", informou Lázaro Rangel, advogado da empresa de cigarros. Rangel confirmou que a empresa já recebeu o equipamento de volta.

A 1.425 km do local do crime

Oficialmente, a Polícia Civil ainda não sabe onde foi parar o maquinário levado da CidPol. Especula-se que a máquina foi desmontada, as peças, vendidas, e o chassi principal, levado para Mato Grosso do Sul, a 1.425 km da Cidade da Polícia.

Atualmente, há pelo menos 2 inquéritos instaurados por conta do furto do equipamento.

Um tramita pela Draco para apurar o delito (como a máquina desapareceu) e outro da Corregedoria da Polícia Civil. Este último investiga a possível participação de policiais no crime.

Máquina de produzir cigarro que foi furtada de dentro da Cidade da Polícia

Reprodução/TV Globo

A máquina que desapareceu da Cidade da Polícia havia sido apreendida durante operação realizada em julho de 2022, em uma ação de outra unidade, o Departamento-Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro.

Devolução por conta própria

Procurada, a Polícia Civil disse que "a decisão de devolução da máquina foi da própria Polícia Civil. A instituição esclarece que o equipamento passou por perícia, cujo resultado não determinou se as peças que estavam nele eram da máquina furtada". Ainda de acordo com o comunicado, "investigações apontam que peças foram vendidas e o chassi principal foi levado para Mato Grosso do Sul".

Ainda segundo a instituição, foram cumpridas medidas cautelares contra envolvidos no furto da máquina e que policiais da instituição estão sendo investigados. Por fim, a pasta destacou que "as investigações seguem a fim de esclarecer todos os fatos e responsabilizar os envolvidos".

O Tribunal de Justiça informou que o processo está em fase de inquérito e não informou se a devolução foi determinada pelo Poder Judiciário.