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Juiz registrou BO de furto após vítima levar cofre onde ele armazenava provas de agressão

Por PATRICIA em 27/03/2023 às 16:48:19

Mulher que acusa o magistrado de violência física, sexual e psicológica afirma que cofre é o local onde ele guardava imagens das agressões contra ela. Investigação sobre furto ainda não foi encerrada. Mulher obtém medida protetiva após acusar juiz de violência física, sexual e psicológica

Acusado de violência física, sexual e psicológica pela mulher, o juiz Valmir Maurici Júnior, da 5ª Vara Cível de Guarulhos (SP), registrou um boletim de ocorrência de furto no fim de 2022 após a vítima levar o cofre onde eram armazenadas as provas de agressão.

O boletim de ocorrência foi registrado pelo juiz no dia 30 de novembro na Polícia Civil em Caraguatatuba, no Litoral Norte de São Paulo, onde o casal morava. No registro, o magistrado cita que a relação entre eles se encerrou no final de outubro.

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A mulher afirma que sofria as agressões, mas não tinha provas da violência. Foi então que ela colocou o celular no quarto, na direção da cama, para tentar flagrar agressões. A mulher conseguiu filmar um tapa dado nela pelo juiz enquanto os dois estavam deitados na cama. Também registrou xingamentos e empurrões, quando ela estava na frente dele perto da porta do quarto.

Ao sair de casa, ela levou consigo um cofre que, segundo ela, Maurici Júnior mantinha no escritório da casa. O fato de a mulher ter levado o cofre da casa do casal fez Valmir Maurici Júnior acusar a esposa de furto qualificado.

Imagens mostram agressões do juiz Valmir Maurici Júnior contra sua mulher

Reprodução

Após o registro do boletim de ocorrência, a Polícia Civil abriu as investigações sobre o caso. Em janeiro, fez busca e apreensão na casa da mulher no Paraná. Nessa ação, a polícia localizou o cofre e parte das coisas que o juiz alegava estar com a mulher.

Entre os itens apreendidos estava um notebook. Em janeiro, o Tribunal de Justiça determinou que a Polícia Civil entregasse o material para o Ministério Público — que abriu procedimento investigativo contra o juiz.

A Polícia Civil segue em investigação sobre o caso, ainda sem conclusão do inquérito. O advogado Luciano Katarinhuk, que defende a mulher, diz que a casa era dela também, porque ambos viviam juntos, e que não houve furto. O material do cofre foi encaminhado para perícia pelo Ministério Público.

A defesa do juiz nega "veementemente os fatos que lhe são imputados ” (veja resposta na íntegra mais abaixo). O g1 procurou Maurici Júnior por meio de mensagem no celular, mas não obteve resposta.

Valmir Maurici Júnior, juiz de direito acusado pela esposa de violência física, sexual e psicológica

Reprodução

Denúncia de violência

A mulher do juiz Valmir Maurici Júnior acusa o marido de violência física, sexual e psicológica. O g1 obteve vídeos que mostram as agressões, ocorridas na casa em que os dois moravam, em Caraguatatuba, no Litoral Norte de SP (veja no início da reportagem).

Em um dos vídeos, o juiz dá um tapa na cabeça da esposa; em outro, ele dá empurrões, chute e a xinga, e ela cai no chão; ambos foram gravados com um celular dela — segundo ela, em outubro de 2022. Em um terceiro vídeo, de abril de 2022, aparentemente gravado pelo próprio juiz, ele a submete a uma relação sexual — segundo ela, não consentida por não ter tido opção de escolha.

A vítima e Maurici Júnior se casaram em 2021. A mulher, de 30 anos, diz que saiu de casa em 23 de novembro; o casal está em processo de separação. A violência começou depois dos seis primeiros meses de relação, segundo a defesa dela.

Em janeiro, ela obteve medida protetiva na Justiça, com base na lei Maria da Penha, que proíbe o juiz de se aproximar e de manter contato com a mulher e com pais e familiares dela. Na mesma decisão, Maurici Júnior, 42 anos, também foi obrigado a entregar a arma a que tem direito por ser magistrado.

O Ministério Público de São Paulo abriu investigação sobre o caso.

O g1 apurou que o MP trata "os fatos noticiados" como "gravíssimos" e que o juiz "demonstrou comportamento violento, manipulador, desviado, e que potencialmente colocaria em risco" a integridade da vítima e dos seus parentes. No mesmo parecer, o MP trata a mulher como "vítima" e o juiz, como "investigado".

O procedimento está no Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo, órgão responsável por casos do tipo de acordo com a Lei Orgânica da Magistratura.

Relação

Em entrevista ao repórter Giovani Grizotti no dia 27 de dezembro, a vítima conta que conheceu o juiz em outubro de 2020, quando, segundo ela, ele vivia em Santa Catarina e ela, no interior de São Paulo. Em dezembro de 2021 ela se mudou para Caraguatatuba, no litoral norte de São Paulo, para morar com Maurici Júnior.

"Eu conheci ele quando ele me mandou uma mensagem pelas redes sociais e me convidou para jantar. Na época, ele morava em Santa Catarina. Eu ficava muito com ele em Santa Catarina. E ele era uma pessoa encantadora. Parecia um príncipe (...) eu fiquei muito apaixonada", disse.

A relação dos dois, conta, começou a ficar violenta aos poucos, e ela não queria o fim da relação:

"Ele sempre falou do sexo com força, mas eu não entendia o que era isso. Eu sofri todo tipo de violência com ele. Violência sexual, moral, física, psicológica. Ele usava de vários mecanismos para me deixar confusa. Ele falava: é só dar um tapa. Eu consegui perceber que saiu do contexto sexual quando eu tava na cozinha, fazendo alguma coisa, ele me dava um tapa na cara, puxava meu cabelo", afirmou.

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'Pessoas influentes e poderosas'

Ela disse que, ao sinalizar ao marido que o denunciaria, ele a intimidou mencionando a própria rede de contatos:

"Ele falava: pode ir pra polícia. Leve seus vídeos. Quando você chegar na delegacia, eu vou ser avisado. Porque eu sou um juiz, e você é só mais uma mulher louca. Não vai acontecer nada comigo. Eu nunca vou preso, eu tenho os amigos certos, pessoas influentes e poderosas. Você só vai passar vergonha, você vai ser ridicularizada".

Além de magistrado do Tribunal de Justiça, Maurici Júnior foi professor do curso de juiz de direito no cursinho Complexo de Ensino Renato Saraiva (Cers). Diante da denúncia exclusiva revelada pelo g1, o Cers disse que que "repudia qualquer ato de violência contra a mulher".

A mulher vive longe de São Paulo atualmente. Em razão da medida protetiva, Valmir Maurici Júnior não pode manter contato com ela, com os pais dela e com familiares, nem se aproximar deles. Ela teve episódios de depressão, ansiedade e, em dezembro, chegou a ser internada com quadro psicótico, de acordo com laudos médicos a que o g1 teve acesso.

Sobre como vai tocar a vida, a mulher afirma:

"Eu não tenho vida mais. Perdi vontade de tudo, perdi vontade até de viver". Questionada sobre o que a confortaria, respondeu: "Saber que outras mulheres não vão passar o mesmo que eu passei. Porque é um preço muito alto (...) A gente nunca... uma mulher não entra num relacionamento pensando que vai ser abusada e violentada de várias formas. Eu entrei com um sonho e eu saí com um pesadelo."

O que dizem os citados

Juiz Valmir Maurici Júnior

“A defesa técnica do magistrado, por seus advogados Marcelo Knopfelmacher e Felipe Locke Cavalcanti, nega veementemente os fatos que lhe são imputados e repudia com a mesma veemência vazamentos ilegais de processos que correm em segredo de Justiça.”

Tribunal de Justiça de São Paulo

"A assessoria de Imprensa do Tribunal de Justiça de São Paulo, em relação à solicitação de informações, esclarece se tratar de Procedimento Investigativo Criminal que, dada a natureza do feito, tramita em segredo de Justiça.

O desembargador relator — sorteado dentre os integrantes do Órgão Especial — responsável pela condução do procedimento, já determinou a extração de cópias e remessa à Corregedoria Geral da Justiça, para adoção das providências administrativo-disciplinares que se entenderem cabíveis".

Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, sobre o inquérito aberto em que juiz acusa a esposa de furto qualificado:

"O caso segue em investigação pela Delegacia de Polícia de Caraguatatuba. A autoridade policial realiza a oitivas de testemunhas e diligências para esclarecer todas as circunstâncias dos fatos."

Fonte: G1

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