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Inflação alta, filas de espera na saúde pública, imigração e escândalos: o que fez o Partido Conservador naufragar

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Os conservadores, do atual primeiro-ministro Rishi Sunak, deixam o poder após 14 anos à frente do governo. Resultados oficiais confirmaram a vitória esmagadora do Partido Trabalhista, que deve colocar Keir Starmer como novo primeiro-ministro. O primeiro-ministro Rishi Sunak durante programa de televisão, em 20 de junho

Stefan Rousseau via Reuters

O Partido Conservador sofreu uma derrota esmagadora nas eleições parlamentares desta quinta-feira (4) para o Partido Trabalhista e vai deixar o poder no Reino Unido após 14 anos de governo. O fracasso no pleito confirmou o naufrágio dos conservadores, que estavam sob pressão por conta de diversos aspectos socioeconômicos do país.

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Os resultados oficiais das eleições foram divulgados no início desta sexta (5) e confirmaram as pesquisas de boca de urna.

Com o resultado, Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista, se tornará o novo primeiro-ministro do Reino Unido -- veja quem ele é.

Mais do que uma vitória dos trabalhistas, estas eleições foram sobre o naufrágio dos conservadores. Políticas, crises e escândalos nos governos tories -- como são conhecidos os conservadores- desde 2010 formaram o cenário atual, em que muitos eleitores culpam os conservadores pela lista de problemas enfrentados pela Grã-Bretanha, desde derramamentos de esgoto e serviço de trem pouco confiável até a crise do custo de vida, crime e a chegada de migrantes cruzando o Canal da Mancha em botes infláveis.

Os conservadores de centro-direita assumiram o poder durante a crise financeira global e venceram mais três eleições desde então. Mas esses anos foram marcados por crises como a do Brexit e da Covid-19, uma economia lenta, alta da inflação serviços públicos em declínio e uma série de escândalos, tornando os tories alvos fáceis para críticos da esquerda e da direita.

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Veja abaixo mais algumas das grandes questões que levaram os conservadores ao naufrágio:

Escândalos: O partido foi manchado pelas repetidas falhas éticas dos ministros do governo, incluindo festas durante o lockdown em escritórios do governo. Os escândalos afastaram o ex-primeiro-ministro Boris Johnson do cargo e, finalmente, do Parlamento após ser descoberto que mentiu aos legisladores. Sua sucessora, Liz Truss, durou apenas 45 dias após suas políticas econômicas arruinarem a economia.

Economia: A Grã-Bretanha tem lutado com alta inflação e crescimento econômico lento, que se combinaram para fazer a maioria dos britânicos se sentir mais pobre. Os conservadores conseguiram controlar a inflação, que desacelerou para 2% no ano até maio, após atingir o pico de 11,1% em outubro de 2022, mas o crescimento permanece lento, levantando questões sobre as políticas econômicas do governo.

Imigração: Milhares de requerentes de asilo e migrantes econômicos cruzaram o Canal da Mancha em botes infláveis frágeis nos últimos anos, desencadeando críticas de que o governo perdeu o controle das fronteiras da Grã-Bretanha. A política de assinatura dos conservadores para parar os barcos é um plano para deportar alguns desses migrantes para Ruanda. Os críticos dizem que o plano viola o direito internacional, é desumano e não fará nada para impedir pessoas fugindo de guerras, conflitos e fome.

Saúde: O Serviço Nacional de Saúde britânico, que fornece assistência médica gratuita a todos, é atormentado por longas listas de espera para tudo, desde cuidados dentários até tratamento contra o câncer. Os jornais estão cheios de histórias sobre pacientes gravemente doentes forçados a esperar horas por uma ambulância, e depois ainda mais tempo por um leito hospitalar.

Meio ambiente: Sunak retrocedeu em uma série de compromissos ambientais, adiando o prazo para acabar com a venda de veículos de passageiros movidos a gasolina e diesel e autorizando novas perfurações de petróleo no Mar do Norte. Os críticos dizem que estas são as políticas erradas num momento em que o mundo está tentando combater as mudanças climáticas.

Derrota histórica conservadora

A votação nesta sexta (4) representou uma derrota histórica para os conservadores. Com 131 assentos, eles obtiveram seu pior resultado em termos de cadeiras no Parlamento desde que começaram a se chamar Partido Conservador, na década de 1830, sob Robert Peel. O pior resultado conservador até então era de 156 assentos, em 1906.

"Se esta pesquisa de boca de urna estiver correta, então esta é uma derrota histórica para o Partido Conservador, uma das forças mais resilientes que já vimos na história política britânica", disse Keiran Pedley, diretor de pesquisa da Ipsos, que realizou a pesquisa de boca de urna, à Reuters. "Parecia que os Conservadores iam permanecer no poder por 10 anos e tudo desmoronou", completou.

Mesmo antes da votação, os conservadores já atuavam na contenção de danos para tentar reduzir o número de cadeiras conquistadas pelos trabalhistas.

As urnas fecharam às 18h (horário de Brasília). As pesquisas de boca de urna dão apenas um indicativo da apuração dos votos, ainda em andamento, mas o cenário já havia sido antecipado pelsa pesquisas de intenção de voto, que indicavam vitória trabalhista com folga.

Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista e favorito para se tornar primeiro-ministro, vota em Londres, em 4 de julho de 2024

Maja Smiejkowska/Reuters

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Starmer agradeceu aos eleitores após o fechamento das urnas. "A todos que fizeram campanha para o Partido Trabalhista nesta eleição, a todos que votaram em nós e confiaram no nosso Partido Trabalhista reformado - obrigado", disse Starmer em publicação no X (antigo Twitter).

Veja abaixo os números de cadeiras conquistados por cada partido, segundo a pesquisa da Ipsos/BBC News/ITV News/Sky News:

Partido Trabalhista (centro-esquerda): aumenta de 205 para 410 assentos (205 a mais)

Partido Conservador (centro-direita): cai de 344 assentos para 131 (213 a menos)

Partido Liberal Democrata: aumenta de 15 para 61 (46 a mais)

Partido Reformista (extrema direita): aumenta de 1 para 13 (12 a mais)

Partido Nacional Escocês: cai de 43 para 10 (33 a menos)

Partido do País de Gales: sobe de 3 para 4 (1 a mais)

Partido Verde: sobe de 1 para 2 (1 a mais)

Outros: 19 (sem alteração)

Veja abaixo um panorama sobre as eleições legislativas no Reino Unido:

Como funciona a eleição?

Como é escolhido o primeiro-ministro?

Por que a eleição foi realizada agora?

Como funciona a eleição?

O Reino Unido está dividido em 650 distritos eleitorais e há 650 membros na Câmara dos Comuns --o Parlamento britânico. Os eleitores de cada um destes distritos vão eleger um deputado para representar os moradores locais. A maioria dos candidatos representa um partido político, mas alguns são independentes. Não há primárias ou segundo turno, apenas uma única rodada de votação em 4 de julho.

A Grã-Bretanha usa um sistema de votação "first past the post", o que significa que o candidato que terminar no topo em cada distrito será eleito, mesmo que não obtenha 50% dos votos. Isso geralmente cimentou o domínio dos dois maiores partidos, conservadores e trabalhistas, porque é difícil para partidos menores ganharem assentos a menos que tenham apoio concentrado em áreas específicas.

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Como é escolhido o primeiro-ministro?

O partido que comandar a maioria na Câmara dos Comuns, sozinho ou com o apoio de outro partido, formará o próximo governo e seu líder será o primeiro-ministro. O líder do partido com o segundo maior número de parlamentares se torna o líder da oposição.

O rei Charles III tem um envolvimento formal nesse processo: ele pede ao líder do partido com mais parlamentares para assumir o posto de Chefe do Executivo e formar um governo.

Isso significa que os resultados determinarão a direção política do governo, que tem sido liderado pelos Conservadores de centro-direita nos últimos 14 anos. O Partido Trabalhista, de centro-esquerda, é amplamente visto como estando na posição mais forte.

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Bruna Rocha Azevedo/g1

Por que a eleição foi realizada agora?

Sunak surpreendeu os analistas e a maioria de seus próprios legisladores há seis semanas quando marcou a eleição para 4 de julho, pelo menos três meses antes do esperado.

Embora a maioria dos observadores pensasse que a votação aconteceria no outono, Sunak apostou em uma eleição de verão, esperando que boas notícias econômicas o ajudassem a convencer os eleitores de que as políticas conservadoras estavam começando a funcionar.

A decisão foi tão surpreendente que colocou os tories em apuros. Surgiram alegações de que membros do partido e policiais designados para proteger os funcionários do governo fizeram apostas em uma eleição de verão, sugerindo que tinham informações privilegiadas e prejudicando a capacidade de Sunak de afirmar que seu partido é mais confiável que os trabalhistas.

Os comentaristas estavam especulando sobre o momento da eleição há meses, porque o mandato parlamentar estava programado para terminar em meados de dezembro. Embora cada parlamento seja eleito por até cinco anos, o primeiro-ministro pode convocar uma eleição sempre que for mais vantajoso politicamente.

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