Dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) mostram que apenas 0,02% da população trans consegue vaga em universidades. Pessoas trans participam de capacitação da Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco (Amotrans)
Reprodução/TV Globo
A ascensão social continua sendo um grande desafio para as pessoas trans. Segundo uma pesquisa da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), em todo o país, apenas 0,02% dessa população conseguiu uma vaga numa universidade, enquanto 70% sequer concluíram o ensino médio.
Nesta sexta-feira (28), em que se celebra o Dia do Orgulho LGBTQIA+, a TV Globo conversou com homens e mulheres trans que conseguiram romper essas barreiras e estão cursando o ensino superior.
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Uma delas é Rosa Fernanda, a primeira mulher trans a fazer parte do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Formada em cinema pela instituição, ela faz o mestrado em comunicação e se prepara para representar o Brasil num congresso em Portugal.
"Para mim, é muito significativo representar o Brasil, representar a minha universidade. (...) Acho que isso não é um ganho somente meu, mas também de toda a comunidade LGBT", afirmou Rosa.
De acordo com o Censo de 2020 realizado pela Redetrans Brasil, outra associação ligada à luta pelos direitos das pessoas trans, apenas 32% dessa população consegue concluir o ensino médio, enquanto 34% não chegam a terminar o fundamental. Os dados foram apresentados nesta sexta (28), em palestra na sede do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (TRT-6), no Centro do Recife.
O estudante Paulo Chateubriand não tinha feito a transição quando passou na UFPE pela primeira vez, em 2014, no curso de geografia. Sem se sentir bem com o próprio corpo, e lidando com as dificuldades nos estudos, acabou abandonando a faculdade.
O universitário voltou à graduação neste ano e formou, com outros alunos, o primeiro time de futsal de homens trans da UFPE.
"Devido à questão de me encaixar, de começar a me aceitar como eu sou, necessitei passar esse período para me fortalecer e começar minha hormonização. (...) Ele [o time] nasce da necessidade de diversidade e inclusão dentro de quadra, dentro das quatro linhas; não falando pelo futsal, mas vôlei, atletismo, qualquer lugar em que a gente queira estar", declarou Paulo.
Para o estudante Eric Alves, que cursa engenharia de pesca na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), espaços como esse dão mais força e ajudam na luta para garantir os direitos e promover a sensação de pertencimento das pessoas trans.
"É uma representatividade muito grande, porque a gente busca sempre uma luta em todos os cantos, tanto na universidade quanto em casa, ter um espaço para poder treinar. A gente vê que tem torneios, principalmente jogos de orgulho, em que a gente pode levar nossa galera trans e travesti, para mostrar para as pessoas que estamos aqui resistindo e sempre vamos resistir", afirmou.
Na avaliação da coordenadora da Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco (Amotrans), Chopelly dos Santos, a inspiração em pessoas que dedicaram suas vidas a lutar pelos direitos da população LGBTQIA+ ajuda as novas gerações a não desistirem.
"Teve uma geração antes de mim, que lutou contra a ditadura, lutou contra todos os preconceitos, que vivia na noite. Aí vem a minha geração, que começa a se organizar e discutir com o governo políticas públicas voltadas para empregabilidade, direitos humanos das pessoas trans. Vem a nova geração, que está ascendendo, entrando nas faculdades e no mercado de trabalho, a pequenos passos", afirmou Chopelly.
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