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Premiado em festivais, filme cearense 'A Filha do Palhaço' se inspira na vida de Paulo Diógenes e homenageia artistas que vivem do humor

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Por PATRICIA em 26/05/2024 às 04:48:20

Gravado em Fortaleza, o longa chega aos cinemas depois de dois anos ganhando prêmios em mostras competitivas. Em conversa com o g1, diretor e elenco contam detalhes da obra. Conheça o premiado filme 'A Filha do Palhaço', que estreia nesta quinta-feira nos cinemas

Aclamado pelo público em festivais brasileiros, o filme 'A Filha do Palhaço' estreia nos cinemas nesta quinta-feira (30) com uma história que se inspira na vida do ator Paulo Diógenes e homenageia os artistas do riso no Ceará. O longa retrata as vivências de um humorista confrontado com a paternidade tardia ao conviver com a filha adolescente.

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Conflitos internos, conexão e segundas chances são alguns dos temas propostos a partir da chegada da personagem principal, a jovem Joana, para passar uma semana com o pai Renato, um artista que se transforma na personagem Silvanelly em apresentações como humorista na noite de Fortaleza.

O filme foi dirigido por Pedro Diógenes, que está em seu nono longa-metragem e tem títulos como 'Inferninho' e 'Pajeú' no currículo.

Confira o trailer do filme 'A filha do palhaço', que estreia no dia 30 de maio

O elenco conta com o ator Démick Lopes e a estreante Lis Sutter como protagonistas, tendo também participações de Jesuíta Barbosa, Jupyra Carvalho e Valéria Vitoriano (que se consagrou com a personagem Rossicléa).

O Paulo e a Raimundinha

Foto da personagem Raimundinha, interpretada por Paulo Diógenes, em 1991

Arquivo pessoal

O longa 'A Filha do Palhaço' reúne traços da vida do artista cearense Paulo Diógenes. Não é um filme autobiográfico. Assim, a jornada de Renato não busca contar a história do humorista, que faleceu em fevereiro deste ano. No entanto, a trajetória do cearense inspirou vários elementos, como roteiro, atuações, maquiagem e figurino.

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Homenagear os comediantes da noite cearense foi uma ideia de Pedro Diógenes, que também escreveu o roteiro em colaboração com Amanda Pontes e Michelline Helena. Mesmo sendo primo distante de Paulo Diógenes, o cineasta sempre teve acesso às vivências de um humorista fora dos palcos.

Figurinos e maquiagens da personagem Silvanelly foram inspirados na Raimundinha, de Paulo Diógenes

Divulgação

Inquietações sobre a paternidade, o amor por Fortaleza e a inspiração nos profissionais do riso foram aspectos trazidos para a história, com um roteiro que se aperfeiçoou a partir das primeiras linhas escritas ainda em 2012.

"Quando as cortinas se fecham, aquele artista que faz os outros rirem tem que descer do palco e encarar uma solidão, as dúvidas, as angústias… E aqui, no caso [do filme], encarar uma filha com quem ele não convivia há muito tempo. Acho que essa vontade de mostrar o outro lado do humor, o que acontece por trás do palco, vem da minha relação com o Paulo Diógenes, uma relação de admiração pela Raimundinha, pelo trabalho, pela coragem e pelo pioneirismo dele", conta Pedro.

Com maquiagem extravagante, peruca e roupas de mulher, Paulo virava a Raimundinha para contar piadas nos bares de Fortaleza por volta de 1986, abrindo caminhos para um cenário cultural que viria a se firmar na capital cearense.

Ao ser convidado para protagonizar o filme, o ator Démick Lopes se preparou lendo o roteiro e fazendo pesquisas sobre Paulo e o humor cearense.

"Quando eu recebi o roteiro, eu vi o tamanho do desafio. E depois eu vi muitas entrevistas dele em que ele falava 'a Raimundinha' e 'o Paulo Diógenes'. Todos na terceira pessoa. E eu vi que eram duas personas que, de fato, iam ser construídas: o Renato e a Silvanelly. E assim a gente fez com essas duas vidas, cada uma com seu aprofundamento, com suas particularidades", partilha o ator.

O ator Jesuíta Barbosa e artistas do humor cearense integram o elenco de 'A Filha do Palhaço'

Divulgação

O filme traz outras referências ao humor cearense. A personagem Joana, por exemplo, usa uma camisa com a caricatura da Raimundinha e que foi assinada por Paulo Diógenes. Outras vertentes do humor também são contempladas com a aparição de artistas do Ceará, como Patrícia Nassi e o Palhaço Papillon.

"Onde hoje na Aldeota tem uma farmácia, antes era uma pizzaria que tem show de humor. Isso está muito presente na vida do cearense", brinca Démick Lopes.

Emoção do homenageado

Démick Lopes interpreta o humorista Renato, que se transforma em Silvanelly para fazer shows de humor

Divulgação

Inicialmente planejadas para 2020, as filmagens de 'A Filha do Palhaço' acabaram precisando de adaptações e medidas de segurança, pois foram realizadas enquanto a pandemia de Covid parecia ter dado uma trégua. Ainda assim, foi possível realizar as cenas em espaços variados de Fortaleza.

O processo de fazer o filme não envolveu uma proximidade com Paulo Diógenes. Foi uma escolha do diretor para permitir um distanciamento para a construção da história fictícia de Renato. O momento de mostrar o filme para ele foi depois de pronto.

Por motivos de agenda, o comediante não conseguiu conferir a primeira exibição pública, na abertura do Cine Ceará em 2022.

Como filme passou quase dois anos circulando por mostras competitivas, outra oportunidade surgiu em um evento emocionante e significativo para a vida de Paulo: o Festival de Cinema e Cultura da Diversidade Sexual e de Gênero (For Rainbow). Na mostra, o longa ganhou prêmios por Direção de Arte, Fotografia e Melhor Ator.

"Eu fui dar um abraço nele. Eu estava muito emocionado com a presença dele e percebi ele muito emocionado. A gente chorou de alegria com aquela sessão linda, foi um aplauso demorado e caloroso", recorda Démick.

Tanto o ator quanto o diretor relatam que ficaram mais próximos dele depois, passando a compartilhar histórias e conversas a partir do filme, incluindo ideias de produções futuras. Para Démick, a admiração cresceu pelo comediante, que foi pioneiro ao criar a Raimundinha em um Ceará pós-ditadura e conservador.

Reflexões a partir do reencontro

Paternidade tardia e conflitos internos marcam a história de 'A Filha do Palhaço'

Divulgação

Na vida de Renato fora dos palcos, existe a relação dele com a filha que foi abandonada ainda na infância. Quando volta para a vida de Renato, Joana chega cheia de perguntas. São questões que se somam aos dilemas pessoais do comediante.

Um dos desafios é o de estabelecer essa conexão em uma experiência tardia de paternidade. Para Pedro e Démick, contar essa história foi um exercício a partir de reflexões trazidas com as experiências deles por terem se tornado pais — uma etapa da vida que eles, como amigos e colegas de outros trabalhos, vivenciaram quase ao mesmo tempo.

A ideia do filme não é trazer respostas, mas levantar perguntas sobre a ausência ou a presença de um pai na vida dos filhos. Além disso, o personagem Renato guarda a angústia por não saber como revelar a própria homossexualidade para Joana.

Para Pedro Diógenes, essa chance de diálogo entre pai e filha resulta em um momento emocionante do filme. Eles ressaltam que a receptividade do público aponta para uma realidade em que diversas configurações de famílias são possíveis.

"Se podemos dizer que o filme tem uma mensagem, talvez seja essa. Não existe padrão para a família. Família é amor, e pra amor não tem regra. E talvez também a mensagem de que nunca é tarde para tentar corrigir os erros do passado. Eles não se apagam, mas nunca é tarde para mudar e tentar corrigir coisas do passado", comenta o diretor.

Primeiro papel no cinema

Com experiências de atuação na escola, Lis Sutter fez sua estreia no cinema com 'A Filha do Palhaço'

Divulgação

A rotina de filmagens, dos ensaios e do aprendizado dos termos próprios do cinema chegou como uma novidade para a jovem Lis Sutter.

"No início, eu achava que era só chegar, ler o roteiro e fazer. Aí descobri que não era bem assim, que tem um processo bem grande até realmente você chegar no set e gravar. Eu fui descobrindo como funciona realmente um filme", comenta a atriz.

As experiências anteriores dela foram com o teatro na escola. Quando a mãe propôs que ela fizesse o teste de elenco, ela nem acreditou que seria aprovada.

Lis ainda tinha 17 anos quando fez o primeiro teste. Já de início, o processo foi diferente do que ela imaginava. Isso porque, em vez de receber um material para ler, a jovem encontrou os caminhos para construir a Joana a partir de conversas.

Na verdade, a atriz ainda passou muito tempo sem receber o roteiro. Mesmo depois de aprovada para o papel. Como explica Pedro, a escolha foi para que ela não ficasse presa à ideia de decorar falas, despertando a construção da personagem pelo diálogo, como nas conversas com ele e com Démick para acertar o tom entre pai e filha.

O processo de preparação para o filme foi conduzido também pelas atrizes Samya de Lavor e Elisa Porto.

A jornada de Joana e Renato emocionou o público e a crítica em 'A Filha do Palhaço'

Divulgação

Passada essa fase, Lis começou a vivenciar também as etapas de acompanhar o filme depois de pronto. Um dos momentos que ela destaca foi a emoção ao ver o longa sendo premiado pelo júri popular na Mostra de Cinema de Tiradentes, no início de 2023.

A emoção veio por ver mais de mil pessoas vendo o filme em praça pública no interior de Minas Gerais. Para Pedro Diógenes, a reação do público naquela exibição faz com que ele considere essa como uma das sessões mais bonitas até agora.

'A Filha do Palhaço' também já conquistou prêmios em outras competições como a Mostra de Cinema de Gostoso, o Cine Ceará, o For Rainbow e o Festival SatyriCine Bijou.

O longa é uma produção da Marrevolto Filmes em associação com a Pique-Bandeira Filmes, contando com a distribuição da Embaúba Filmes.

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Fonte: G1

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