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"Delegacia do crime": veja como funcionava esquema de policiais civis e outros agentes públicos para extorquir dinheiro de empresários em SP

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Por PATRICIA em 31/03/2024 às 22:17:24

Segundo o Ministério Público, o grupo de Indaiatuba promovia operações policiais, apreendia mercadorias e forjava a ocorrência de irregularidades para forçar o pagamento de propina milionária. Os suspeitos também ameaçavam os empresários. Esquema montado por policiais e agentes públicos cobrava propina milionária de empresários

O Fantástico deste domingo (31) revelou o esquema de policiais e agentes públicos para extorquir dinheiro de empresários no interior de São Paulo.

Segundo o Ministério Público, o grupo promovia operações policiais, apreendia mercadorias e forjava a ocorrência de irregularidades para forçar o pagamento de propina milionária.

Você vai ver nesta reportagem:

Como agiam os criminosos

Prisões

Advogados dos empresários envolvidos

O que dizem os acusados

Na cidade de Indaiatuba, a 110 quilômetros da capital, a polícia apreendeu 23 carros de uma concessionária além de bens dos empresários e outras mercadorias, levados em dois caminhões a serviço dos policiais.

Segundo um promotor da investigação, os policiais entravam no estabelecimento, "invadiam sem mandado, sem ordem judicial nenhuma", e acusavam os empresários de crimes.

A polícia de Indaiatuba apreendeu 23 carros de concessionárias de empresários em esquema de extorsão envolvendo agentes públicos.

Reprodução/Fantástico

Os empresários foram encaminhados à delegacia, onde ocorria a extorsão. Segundo a investigação, os empresários eram ameaçados pelos policiais.

"A gente acabou vendo que vocês têm crime de lavagem dinheiro, crime de mercadoria falsificada, de formação de quadrilha, de porte ilegal de arma, abuso sexual", disse uma das vítimas em depoimento.

De acordo com a investigação, as acusações eram forjadas para pressionar os empresários.

Nessas conversas na delegacia, uma promessa: todas as alegações levantadas pelos policiais durante as operações seriam esquecidas, as mercadorias seriam devolvidas e tudo voltaria a ser como antes, mas com uma condição: "eles querem 3 milhões de reais", disse Rubens Filho, advogado dos empresários.

O suspeito de ser o chefe da organização criminosa é Clésio de Oliveira Filho, o delegado titular do Primeiro Distrito Policial de Indaiatuba. Era nesse local que os suspeitos investigados pelo MP-SP escolhia as vítimas e acertavam o valor da propina Segundo promotores, o local funcionava como se fosse um "gabinete do crime".

Os empresários disseram que participaram de uma reunião na delegacia onde foram acompanhados pelo advogado Hélio dos Santos Júnior, sócio de Rubens.

Eles foram recebidos pelos policiais civis André da Silva e Carla Moreira, pelo guarda municipal Jackson da Silva e por Márcio Pereira Mendes, que nem é da polícia.

"Era a Márcio 'treme-treme' que conduzia, mas a pessoa que mais humilhava era a Carla. Era uma cara de deboche, uma cara de humilhação como se a gente fosse qualquer pessoa na frente dela. Autoridade em cima da gente", disse uma das vítimas em depoimento.

"Eles tinham colocado umas drogas na mesa e se a gente não resolver, não fizer acordo, eles iriam falar alguma coisa desse naipe pra incriminar a gente", afirmou outra vítima não identificada.

Depois de muita discussão, chegaram a um acordo: R$ 1 milhão de propina, a ser pago em R$ 500 mil de entrada e parcelas semanais de R$ 25 mil.

Os empresários e as mercadorias foram liberados e na delegacia foi feito um boletim de ocorrência dizendo que foram apresentadas as notas fiscais dos produtos apreendidos.

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Prisões

Nesta semana, foram presos o delegado Clésio, os dois investigadores, o guarda municipal e outros envolvidos. Os três advogados dos empresários, Rubens Filho, Hélio dos Santos Júnior e Marcelo Savioli, também foram presos acusados de ter participação no crime. (Leia mais abaixo)

Fábio Moraes tentou fugir, mas também foi preso. Ele era um funcionário da Secretaria Municipal de Assistência Social de Indaiatuba que tinha o papel de ameaçar os comerciantes a pagarem a propina.

Segundo o MP, 14 pessoas formavam o "gabinete do crime", entre policiais, agentes públicos e pessoas de outras esferas. "É um grupo formado estrategicamente para que cada um deles pudesse contribuir com essa atuação coletiva", afirmou o promotor Paulo Carolis.

Dos 14 suspeitos, 13 estão presos -- Márcio Pereira Mendes está foragido.

O Ministério Público já identificou novas vítimas e pediu o bloqueio de até R$ 10 milhões das contas de cada um dos investigados.

Advogados dos empresários envolvidos

Para os promotores do MP, os advogados dos empresários, que deveriam defender seus clientes, acabaram se envolvendo no esquema criminoso.

"Os advogados nesse caso atuaram contribuindo para que essa extorsão e essa propina fosse efetivamente paga", disse o promotor Paulo Carolis.

No depoimento, um dos sócios da concessionária disse que soube pelo advogado dele, Marcelo Savioli, que seria acusado de lavagem de dinheiro para um narcotraficante se não fizesse um acerto de R$ 1 milhão com os criminosos.

"O negócio é o seguinte: você tá tudo errado. Se você não fizer um acordo com os caras, você vai ser preso", relembrou o sócio, que não identificado.

A contagem do dinheiro da propina era feita no escritório dos advogados e eles que faziam o pagamento da propina, segundo a investigação.

Contagem do dinheiro de propina era feita no escritório dos advogados das vítimas em Indaiatuba, segundo investigação do Ministério Público.

Reprodução/Fantástico

O que dizem os acusados

O Fantástico tentou ouvir algum representante da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, por nota, o órgão informou que as medidas cabíveis serão tomadas quando a investigação terminar.

A Prefeitura de Indaiatuba disse que já afastou os servidores concursados envolvidos e que os comissionados estão sendo demitidos.

Os advogados de Clésio de Oliveira Filho, Carla Moreira e Marcelo Savioli disseram que vão provar a inocência dos clientes. André da Silva, Jackson da Silva, Fábio Moraes e Hélio dos Santos não quiseram se manifestar. O Fantástico não obteve retorno do representante de Rubens Filho.

No caso de Márcio Pereira Mendes, que está foragido, o advogado não foi localizado.

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Fonte: G1

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