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"Não sabiam quem era Marielle, não sabiam o tamanho dela", diz assessora que sobreviveu ao atentado

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Por PATRICIA em 25/03/2024 às 13:12:28

Fernanda Chaves deu uma entrevista ao 'Conexão GloboNews' desta segunda-feira (25). 'Não sabiam quem era Marielle, não sabiam o tamanho dela', diz assessora que sobreviveu ao atentado

A assessora Fernanda Chaves, sobrevivente e testemunha da morte de Marielle e Anderson, disse acreditar que os mandantes do atentado não imaginariam a repercussão do caso.

Neste domingo (24), a Polícia Federal (PF) prendeu Domingos Brazão e Chiquinho Brazão, apontados como os mandantes, e Rivaldo Barbosa, suspeito de planejar o crime.

"Eu acho que tenha havido [por parte dos mandantes] uma medida errada de que esse crime não ganharia o holofote que ganhou, não tomaria esse vulto que tomou", declarou Fernanda, em entrevista ao Conexão GloboNews desta segunda-feira (25).

"Fizeram errado. Não sabiam quem era Marielle, não sabiam o tamanho dela."

Fernanda Chaves, assessora que sobreviveu ao atentado contra Marielle

Reprodução/TV Globo

Veja outros trechos da entrevista.

Sobre viver com medo

Desde que tudo isso aconteceu, eu vivo com receios, eu vivo insegura, porque eu passei todo esse tempo dizendo uma mesma frase: "Quando você não sabe de onde veio, você não sabe do que se protege".

Mas nunca foi um medo que tivesse me paralisado. É aquela história: "Está com medo, vai com medo mesmo".

Fernanda Chaves, assessora que sobreviveu ao atentado contra Marielle

Reprodução/TV Globo

Choque com Rivaldo

O [envolvimento do] Rivaldo é aquele que chega com mais choque. Choque e revolta.

Não foi uma participação no decorrer do processo, tipo receber uma propina para engavetar uma prova — o que já seria um absurdo. De acordo com as investigações e com o que o que o inquérito traz, ele está na arquitetura desse assassinato. Isso foi o choque.

Quando aconteceu esse assassinato, e o Rivaldo se prontificou imediatamente, o Rivaldo veio abraçar a família. O Rivaldo disse que era uma questão de honra para ele esclarecer esse crime.

É chocante demais saber agora, pelo inquérito, que Rivaldo participa da arquitetura desse crime. É revoltante.

Marielle vive

Mataram a Marielle, tiraram a vida da Marielle, mas a Marielle se transformou em algo tão enorme que eles vão ser obrigados a conviver com a Marielle absolutamente todos os dias da vida infeliz deles, até que elas se acabem.

Eles terão que conviver com a Marielle, ainda que ela esteja enterrada, ainda que a gente chore a ausência dela, ainda que a gente sinta muito a falta dela, eles irão conviver com a presença da Marielle, porque a Marielle vive imensamente e vai ser assim até o final, para sempre.

Fernanda Chaves, assessora que sobreviveu ao atentado contra Marielle

Reprodução/TV Globo

RJ e o crime

Tudo isso traz também o atual estado de coisas do Rio de Janeiro, em que o crime tá completamente entranhado e em todas as instituições.

O crime está no Tribunal de Contas do Estado, ele está na Câmara dos Vereadores, ele está na Assembleia Legislativa, ele se expande para um campo federal, ele elege os deputados federais e ele está lá dentro da Polícia Civil.

Essa figura [Rivaldo] era o chefe. Ele era o xerife. É um absurdo e é muito grave.

Por que Marielle?

É preciso olhar para esse crime como uma perspectiva um pouco mais de longe. Se você pega o caso de forma isolada, parece que a Marielle foi assassinada porque disputava território na Zona Oeste. Não é isso.

A Marielle, como vereadora, tinha suas limitações institucionais. Ela não atuava tanto no campo da segurança pública, que é um tema de Estado. As pautas prioritárias da Marielle eram outras.

Mas a Marielle tinha uma vida interior profissional, em que ela atuou por 10 anos na Comissão de Direitos Humanos da Alerj, que era presidida pelo Marcelo Freixo e coordenada por ela. A Marielle desenvolveu ali um atendimento muito único, muito humanizado, em que ela sempre esteva de frente.

Quem pensou, quem desejou ou pagou por esse crime queria atingir um outro setor da política fluminense, um campo ideológico de pessoas, de autoridades, de parlamentares, de militâncias.

Eu penso que a Marielle foi a pessoa escolhida para ser atingida para pagar esse pato. Eu acho que eles mataram para desarticular, para amedrontar. Era um ano eleitoral. "Quem a gente pega para dar uma sacudida nesse campo e dar um cala-boca nesse campo?"

Então eu acho que a decisão por quem pagaria esse fato foi muito atravessada pelo ódio, pelo racismo, pelo machismo e por ela ser uma mulher afrontosa, por ela ser uma mulher lésbica, por ela ser negra e por ser da favela. Sabe essa abusada?

A posição dela não era muito diferente do restante da pauta. Não era nada diferente do restante da bancada dela, e não só da bancada do partido dela. Outros vereadores ali do campo progressista tinham também o mesmo posicionamento e institucional nas votações, nos posicionamentos.

Então não é uma ação da Marielle que provoca essa reação. É uma coisa que você precisa olhar para o contexto.

Fernanda Chaves, assessora que sobreviveu ao atentado contra Marielle

Reprodução/TV Globo

Marielle atenta

A Marielle era uma pessoa que conhecia a segurança pública, tinha um mestrado nessa área, muita experiência. Ela não negligenciaria uma situação nem deixaria de perceber uma situação de risco. Marielle era muito atenta. Ela, inclusive, tinha muita preocupação com a própria assessoria: estava sempre de olho se estava recebendo uma mensagem de ódio nas redes, um hater aqui, outro ali.

Marielle era uma pessoa de muita pulsão de vida. Quem conheceu a Marielle sabe do que eu estou falando. A Marielle era muito solar, ela era muito viva. Ela tinha muito apreço pela vida.

Ela falou uma coisa que é muito emblemática, que define muito isso. A gente estava falando do Jean Wyllys, que naquele momento sofria muita ameaça. "Se for para ter uma vida assim na política, eu saio antes. Eu não quero isso para mim. Eu não trabalho a partir deste lugar".

Então não, ela não estava sendo ameaçada, e não havia um risco.

Assista à entrevista completa:

Fernanda Chaves fala sobre prisões no Caso Marielle

Fonte: G1

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