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Por que o Limp Bizkit se tornou uma das bandas mais odiadas da história, mas é headliner do Lolla?

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Por PATRICIA em 14/03/2024 às 03:35:25

Grupo já se definiu como 'uma banda de rock idiota' e vocalista já se envolveu em polêmicas incitando quebra-quebra em festival, cantando letras toscas e tretando com 'haters'. Muita gente ficou se perguntando "que ano é hoje?" quando viu o nome do Limp Bizkit entre as atrações principais da edição deste ano do Lollapalooza. A banda americana de rap rock toca no sábado, 23 de março, às 19h55, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo.

O horário super nobre no line-up deixa claro que eles ainda têm muitos fãs. Hoje, a nostalgia faz com que atrações antes limitadas a espaços de shows pequenos ou médios tenham cacife para tocar em grandes festivais. Mas existe um outro lado: é possível dizer que o Limp Bizkit se tornou uma das bandas mais odiadas da história.

Desde sua criação em Jacksonville, no estado americano da Flórida, 30 anos atrás, o grupo sempre foi despretensioso, desbocado, revoltado e sem medo de ser tosco. Eram "uma banda de rock idiota", na precisa definição de Wes Borland, guitarrista do grupo.

O vocalista Fred Durst já gritou contra ex-namoradas e contra todo tipo de "haters". O jeito de enxergar o mundo sempre pareceu o de uma pessoa recalcada e com mania de perseguição. Essa postura fez o Limp Bizkit ser rotulado pela crítica americana como "a maior banda dos playboys universitários".

G1 no Lollapalooza 2024: Limp Bizkit

Em depoimento para o jornal "Independent Times", Ben Knowles, então editor da NME no auge da banda, disse que era complicado escrever sobre uma banda tão "estúpida, crua, ofensiva e sexista". "Foi como se um daqueles filmes pós-'American Pie' ganhassem vida em forma de música", ele resumiu.

"Se havia um elemento que falava alto aos adolescentes naquela época, era esse tipo de raiva incoerente. Eles ajudaram os ouvintes a purgarem suas frustrações", explicou Jason Arnopp, da revista "Kerrang".

O som pouco criativo, uma mistura de rap e rock de riffs colantes, também não ajudou muito. Das bandas do new metal, o Limp Bizkit foi a menos levada a sério pela crítica. Korn, Slipknot e Linkin Park foram bem menos achincalhados durante seu auge no final dos anos 90 e começo dos anos 2000. Mas um evento ajudou a piorar (ainda mais) a reputação do grupo...

O que aconteceu no Woodstock 99?

Cena de show da série 'Trainwreck: Woodstock 99', sobre o festival que teve participação do Limp Bizkt

Divulgação/Netflix

Registrado em dois documentários lançados em 2022, o caos do festival Woodstock 99 teve o Limp Bizkit como um dos protagonistas. Segundo um relatório policial divulgado após o evento, 44 pessoas foram presas e uma foi acusada de agressão sexual. Há vários relatos, publicados por revistas e jornais americanos, feitos por mulheres que sofreram abusos durante o festival.

A edição comemorativa do evento americano ficou marcada por casos de violência e de agressão sexual. Parte da produção do festival e integrantes de outras bandas acusaram o líder do Limp Bizkit de incentivar o comportamento hostil da plateia. Quando o público parecia fora de controle, a organização do festival pediu que Fred desse um recado aos fãs, para que pegassem mais leve.

"Eles estão nos pedindo para que vocês se acalmem um pouco. Eles estão dizendo que muitas pessoas estão se machucando… Mas eu não acho que vocês têm que ficar de boa, não. Ficar de boa?! Foi isso que Alanis Morissette acabou de fazer com vocês, seus filhos da puta! Peguem suas sandálias e enfiem na porra da sua bunda!"

Mas a coisa piorou quando ele anunciou "Break Stuff". "Quantas pessoas aqui já acordaram e decidiram que não era um dia daqueles e que você iria quebrar alguma merda? Este é um desses dias, pessoal. Quando tudo está fodido. Você só quer quebrar alguma merda. Vocês me ouviram?", ele perguntou.

O Limp Bizkit, com o vocalista Fred Durst no centro

Divulgação/Woodstock

A plateia que já tinha começado a destruir parte da estrutura do evento passou a quebrar tudo com ainda mais intensidade. As barreiras que cercavam o palco e as torres de áudio foram arrancadas e viraram plataformas. Muitos usaram esses pedaços de madeira para surfar no público.

Fred viu todas essas cenas e elogiou. "Eu lembro que eu saí do palco e já tinha um policial com meu empresário vindo na minha direção. Eles me disseram: Fred, acho que você meio que incitou um motim", relembrou o cantor.

Dez anos depois, ele mudou de ideia. "Durante anos, olhava para a multidão e via um bando de valentões e idiotas que me torturaram e arruinaram minha vida", disse Fred Durst à revista "Rolling Stone", dez anos após o festival.

"Eles estavam usando minha música como combustível para torturar outras pessoas, até mesmo se vestindo como eu. Minha música estava sendo mal interpretada."

John Travolta posa com Fred Durst na pré-estreia do filme 'The Fanatic' (2019) em Los Angeles, na Califórnia (EUA). O vocalista do Limp Bizkit dirigiu o longa estrelado pelo ator

Monica Almeida/Reuters

A letra "Break Stuff", sobre uma incontrolável vontade de "quebrar tudo", tem versos como:

"Acho melhor você parar de falar merda ou vai sair com um lábio inchado";

"O primeiro a reclamar comigo vai sair com uma mancha de sangue".

Um dos primeiros hits, no entanto, foi "Faith", cover de George Michael. "Eu não esperava que ele fosse pego naquele banheiro. Esse infortúnio realmente nos ajudou. Não tinha como ter mais divulgação", disse o vocalista, sobre o dia em que o cantor foi detido por propor sexo a um policial em um banheiro público. George Michael odiava a cover.

A fase da autozoação?

O Limp Bizkit em 2016

Divulgação/Site oficial da banda

O Limp Bizkit que vem ao Lollapalooza é uma banda que ainda se apoia em uma raiva adolescente, mesmo com integrantes hoje cinquentões. Soma-se a esse lado mais primal duas novidades: a banda tem apostado mais na nostalgia e na autozoação.

A banda tem tentado fazer colar a ideia de que aqueles caras revoltados no palco eram personagens. "Eu não sou de ouvir nenhum tipo de música tipo Limp Bizkit. Adoro jazz e música triste. Sou uma pessoa sentimental, cara. Eu sou um cara romântico."

O álbum mais recente saiu em 2021 e se chama "Still sucks", algo como "ainda somos uma merda". Em "Love and hate", pessoas conversando na introdução dizem que odeiam a banda e chamam o vocalista de "o pior rapper branco que já existiu". "Dad vibes" é sobre sair por aí com look de tiozão, algo que faz sentido ser cantado por eles hoje.

O setlist nos últimos meses tem sido dominado pelos álbuns "Significant Other" (1999) e "Chocolate Starfish and the Hot Dog Flavored Water" (2000). "Hot Dog", uma das músicas desse disco, tem a palavra "fuck" repetida 47 vezes.

Fred Durst durante show do Limp Bizkit no festival Monsters of Rock 2013, em São Paulo

Raul Zito/G1

A banda nunca se importou com palavrões ou expressões chulas, a começar pelo nome do grupo. Limp Bizkit é um jogo em que um grupo de garotos se masturba em volta de um copo, depositando seu esperma nele. A última pessoa a ejacular é obrigada a beber tudo.

"O nome foi escolhido para desviar a atenção das pessoas", explicou o vocalista. "Muitas pessoas pegam o disco e dizem, 'Limp Bizkit, sério?' Essas são as pessoas que não queremos que ouçam nossa música."

O que colegas do rock pensam do Limp Bizkit?

Tom Morello, guitarrista do Rage Against the Machine, tocou logo depois do Limp Bizkit no Woodstock 99. "A música virou algo excessivo, um espetáculo de desrespeito ao público e aos colegas da música", ele comentou.

"Nós arrasamos naquele lugar na primeira noite, e todo mundo se divertiu. Na segunda noite, veio o Limp Bizkit e estragou tudo para todo mundo. Eles realmente fizeram isso. Eles instigaram aquela coisa toda - eu estava lá assistindo", explicou Jonathan Davis, vocalista Korn.

A banda Limp Bizkit

Divulgação

Essas não foram as únicas vezes que colegas de outras bandas de rock citaram o Limp Bizkit de maneira pejorativa. Kerry King, guitarrista do Slayer, disse que a popularidade do grupo de nu metal foi a principal razão pela qual ele quase não se esforçou no álbum "Diabolus in Musica", de 1998. "Eu pensei que era uma coisa de garotos universitários, e talvez por isso fosse tão popular, sei lá… então, 'Diabolus' não foi feito com tanta atenção mesmo, porque a gente perdeu o foco."

Mas o título de banda que mais tretou com o Limp Bizkit ninguém tira do Slipknot. Durst disse que a música da banda era perfeita para "crianças feias e gordas". O Slipknot deu uma entrevista na MTV, dias depois, dizendo que mataria o cantor. Ele deu risada da ameaça.

Anos depois, o líder do Limp Bizkit foi até o backstage de um show do Slipknot com seu filho, que queria conhecer a banda e tirar fotos com ela.

Marilyn Manson não ameaçou Fred de morte, mas foi incisivo ao falar da banda: "Aqueles macacos analfabetos que bateram em você no ensino médio por ser uma 'bicha' agora vendem a você hinos desafinados cheios de misoginia e de testosterona. Eles fingem ser estranhos…"

Com o Creed, as trocas de farpas foram no festival da rádio KROCK em Nova York. Fred dedicou uma música ao vocalista do grupo de pós-grunge: "Esse cara é um ego maníaco… está nos bastidores se portando como a porra do Michael Jackson. Seu merda, quero que você se foda! Se vocês quiserem, vamos providenciar cabines com travesseiros e cobertores para quando o Creed tocar."

Scott Stapp, vocalista do Creed, disse que o rival não teve coragem de falar tudo isso na cara dele. A banda enviou ao camarim do Limp Bizkit um manual de gerenciamento de raiva, autografado por eles e com uma dedicatória para Fred. Fofos.

Fonte: G1

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