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Com operações, Baixada Santista passa São Paulo em mortes por PMs pela 1ª vez

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Por PATRICIA em 18/02/2024 às 07:41:32

Com cerca de 15% do tamanho, região teve o dobro de mortos da capital em janeiro. Nos primeiros dias de fevereiro, 7 vezes. Aumento ocorre em meio a ações de policiamento e assassinatos de policiais. Mortes na Baixada Santista em 2024

Arte/g1 - Dados: MPSP

A Baixada Santista passou a cidade de São Paulo em número de mortos pela Polícia Militar pela primeira vez desde 2017.

Com cerca de 15% do tamanho da capital (1,8 milhão x 11,5 milhões de habitantes), a Baixada teve, em janeiro, duas vezes e, nos primeiros sete dias de fevereiro, sete vezes o número de mortes pela PM ocorridas na cidade de São Paulo.

Janeiro: 20 mortos pela PM na Baixada e 10 na cidade São Paulo;

Fevereiro: 21 mortos pela PM na Baixada e 3 na cidade São Paulo.

Ao todo, em 2024, 41 pessoas foram mortas pela PM na Baixada, ante 13 mortes na capital – dados do MP-SP até o dia 14 de fevereiro.

Os dados são do Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial (Gaesp) do Ministério Público de São Paulo (MP-SP). A série histórica começa em 2017 e vai até 14 de fevereiro de 2024 – e não inclui, ainda, as 5 mortes que ocorreram na quinta-feira (15) e na sexta-feira (16).

Nesse período, a letalidade policial na Baixada igualou a capital em apenas 1 mês – fevereiro de 2022. Nos outros 82 meses, ficou abaixo, como mostra o gráfico abaixo.

Entre os mortos por policiais em 2024 está José Marcos Nunes da Silva, catador de recicláveis, morto por PMs da Rota (considerada a tropa de elite da PM) dentro do barraco onde vivia em São Vicente, na madrugada de 3 de fevereiro. A família diz que ele não tinha envolvimento com crime e pediu para não morrer. Os policiais relataram ter dado voz de prisão e que reagiram a disparos. O boletim de ocorrência foi registrado como resistência, porte ilegal de arma de fogo e drogas sem autorização.

Também foi morto Rodnei da Silva Sousa, em 5 de fevereiro. Parentes dizem que ele tinha envolvimento com tráfico de drogas e foi morto desarmado após ser atraído para uma emboscada. O boletim de ocorrência diz que os policiais acompanharam o carro em que Sousa estava e que ele apontou uma arma em direção aos PMs.

José Marcos Nunes da Silva (à esquerda) e Rodnei da Silva Sousa foram mortos pela PM.

Arquivo Pessoal

Baixada concentra mortes de PMs em 2024

O aumento das mortes em intervenções da PM ocorre em meio a operações de combate ao crime organizado e em resposta ao assassinato de policiais militares na região.

Em 2024, 4 PMs que estavam em serviço ou de folga foram mortos no Estado (ao longo de todo o ano de 2023, foram 21).

Dos 4, 3 foram assassinados na Baixada Santista – dois desses, Samuel Wesley Cosmo e José Silveira Santos, após o início de operações em reação à primeira morte de um PM na região em 2024, a de Marcelo Augusto da Silva.

A SSP afirmou que investe em políticas públicas para diminuir as mortes de policiais, além de reforçar orientação para que a tropa use "táticas e técnicas adequadas" para "se protegerem em situações de legítima defesa".

Policiais militares Marcelo Augusto da Silva, Samuel Wesley Cosmo e José Silveira dos Santos, mortos na Baixada Santista (SP)

Reprodução/Redes Sociais e g1 Santos

Operação Escudo e Operação Verão

Mortes na Baixada Santista em 2024

Arte/g1 - Dados: MPSP

A Secretaria de Segurança Pública de SP é comandada pelo capitão da PM Guilherme Derrite.

Desde o início da gestão, o governo de SP passou a realizar operações – batizadas de Escudo – sempre que um PM é morto ou ferido. Na primeira delas, realizada em 2023 também na Baixada Santista após a morte de um PM, 28 pessoas morreram em alegados confrontos com as forças de segurança. Duas delas receberam tiros à queima-roupa, segundo laudos obtidos pelo g1.

O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) recolheu 11 relatos de violações dos direitos humanos durante a operação de 2023, e a Organização Não Governamental (ONG) Human Rights Watch (HRW) viu falhas na investigação.

Em 2024, o governo chegou a divulgar que realizava Operações Escudo na Baixada Santista. Em 7 de fevereiro, entretanto, Guilherme Derrite disse que, na verdade, o que acontece na região é a Operação Verão.

"Não está acontecendo nenhuma Operação Escudo. É Operação Verão. Na primeira fase o PM Marcelo morreu, na segunda o PM da Rota (Samuel Cosmo) e, agora, é a implementação da terceira fase com a transferência do gabinete para Santos e o reforço do efetivo na região", disse Derrite, citando as fases da Operação Verão, antes informada como Operação Escudo.

Desde o começo da Operação Verão, 27 pessoas foram mortas por policiais. A morte mais recente aconteceu no sábado (17), em Guarujá.

Na sexta-feira (16), a Defensoria Pública de SP e outras entidades apelaram à Organização das Nações Unidas (ONU) e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) pelo fim da operação. No pedido, solicitaram ainda a obrigatoriedade do uso de câmeras corporais por agentes de segurança pública.

Especialista vê 'briga de gangue' entre PMs e bandidos

A Secretaria de Segurança Pública diz que o aumento dos ataques aos policiais militares são "uma consequência direta da intensificação do combate ao crime organizado".

O órgão afirma que apreendeu na Baixada Santista, em 2023, um total de 12,3 toneladas em drogas, o que representa 4% das 267,3 toneladas apreendidas no estado inteiro durante o ano (leia a nota completa ao final desta reportagem).

Em relação às mortes causadas pelos PMs, a pasta diz que são "rigorosamente investigadas pela Polícia Civil com o acompanhamento do Ministério Público e do Poder Judiciário".

Pesquisador do NEV (Núcleo de Estudos da Violência) da USP (Universidade de São Paulo), Bruno Paes Manso afirma que, desde a metade do Século 20, a Polícia Militar de São Paulo costuma realizar operações após mortes de policiais – e que, na década de 1960, policiais criaram informalmente o lema "10 para um", com 10 mortos para cada policial vitimado.

A diferença nas ações atuais, avalia o especialista, é que as mortes pela PM têm causado reações por parte de criminosos contra a própria PM.

"É um tipo de operação que dá errado. É prejudicial para o estado, para comunidade e para os próprios policiais. É como se fosse uma briga de gangues, briga de estádio, em que homens veem suas honras desafiadas. Quem imagina que ganha é quem acha que a honra se faz pelo sangue. É coisa bárbara", avalia o especialista.

O que diz a SSP

"Os ataques às forças de segurança são uma consequência direta da intensificação do combate ao crime organizado pelas forças de segurança do Estado desde o início do ano passado. Somente em 2023, as polícias Civil e Militar apreenderam 267,3 toneladas de drogas, sendo mais de 12,3 toneladas na região da Baixada Santista, causando um impacto bilionário nas finanças dos criminosos ligados ao tráfico de drogas. Nesse mesmo período, mais de 187 mil criminosos foram retirados das ruas.

Desde o dia 18 de dezembro, as forças estaduais de segurança deram início a Operação Verão, reforçando ainda mais as ações de policiamento preventivo e ostensivo na região. A reação dos criminosos a esse trabalho vitimou 3 policiais nas últimas semanas, incluindo dois PMs que estavam em serviço checando denúncias de tráfico de drogas.

Para ampliar a segurança da população bem como as investigações para identificar e prender os responsáveis por esses casos, policiais dos batalhões de ações especiais de Polícia (BAEP) da RMSP e equipes da Rota, do COE, do Denarc e do GER foram deslocados para a região para a terceira etapa da Operação Verão. Esclarecemos ainda que todas as ocorrências de morte, incluindo as registradas em confronto, são rigorosamente investigadas pela Polícia Civil com o acompanhamento do Ministério Público e do Poder Judiciário. Destacamos ainda que a Operação Escudo deflagrada na Baixada Santista no último dia 26 foi encerrada em 28/01."

Fonte: G1

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