G1
O campeão olímpico Joaquim Cruz postou um vídeo nas redes sociais mostrando que a base da pista de atletismo estava destruída por tratores, contrariando decisão do Conpresp e do Iphan. A cena revoltou a categoria e obrigou a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) a se manifestar sobre o assunto. A Secretaria de Esportes disse que está revitalizando o espaço. Complexo do Ibirapuera tem pista de atletismo destruída para sediar evento de automobilismo.ReproduçãoO governo de São Paulo cancelou nesta quarta-feira (14) um evento de automobilismo que ocorreria no Complexo do Ibirapuera, na Zona Sul de São Paulo. A corrida da categoria drift foi alvo de severas críticas da comunidade do Atletismo, após a Secretaria de Estado de Esportes e Lazer destruir a pista histórica de atletismo do Estádio Ícaro de Castro Melo, dentro do complexo, para realização do evento. Na segunda-feira (11), o campeão olímpico Joaquim Cruz postou um vídeo com imagens da base da pista de atletismo sendo destruída por tratores. A imagem revoltou a categoria e obrigou a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) a se manifestar sobre o assunto."Não existe prova de automobilismo em pista de atletismo. É inaceitável. Nada contra o drift ou o automobilismo, mas provas de automobilismo são realizadas em autódromos", disse ao G.E o presidente do Conselho de Administração da CBAt, Wlamir Motta Campos. "A base da pista de atletismo do Ibirapuera não foi construída para suportar eventos de corridas automobilísticas e terá um custo mais elevada para a sua restauração", escreveu Joaquim Cruz nas redes sociais.Conforme o g1 publicou em 2023, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental (Conpresp) abriu processo de tombamento do Complexo do Ibirapuera. Em novembro de 2021, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) também havia tombado provisoriamente o local. Com isso, o governo de SP é proibido de fazer qualquer intervenção sem a devida autorização dos órgãos competentes. Por meio de nota, a Secretaria Estadual de Esportes da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse que cancelou o contrato de locação do Estádio Ícaro de Castro Mello para o evento automobilístico previsto para 9 de março. "A Pasta reitera seu compromisso com a reforma do Complexo Esportivo Constâncio Vaz Guimarães e destaca que as tratativas para este fim com o Iphan e demais órgãos estaduais estão em andamento. A revitalização da pista de Atletismo é prioridade desse projeto, vez que a modalidade é e continuará sendo protagonista desse equipamento público", afirmou. O g1 procurou o Conpresp e o Iphan para saber quais as medidas que serão tomadas diante da intervenção feita pelo governo paulista no local, mas não recebeu retorno até a última atualização desta reportagem.O governo de SP disse que o processo de tombamento no Iphan e no Conpresp diz respeito apenas às fachadas e, portanto, as intervenções não precisam de autorização dos dois órgãos. Porém, na época do tombamento provisório pelo Iphan, a então presidente do órgão, Larissa Peixoto, disse que "não poderão, em caso nenhum, ser destruídas, demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do Serviço do Patrimônio Histórico e Artistico Nacional, ser reparadas, pintadas ou restauradas, sob pena de multa de 50% do dano causado". O que diz a empresa da corridaComunicado da Ultimate Drift sobre o cancelamento do evento no complexo do Ibirapuera.Reprodução/InstagramPor meio de nota publicada nas redes sociais, a empresa Ultimate Drift - responsável pela realizaçãoda corrida automobilistica no estádio disse que "não enxerga motivos para que mais de um esporte não possa ser realizado no mesmo local".A empresa disse que, com recursos próprios, está arcando com a retirada do piso que estava completamente deteriorado e que isso vai abrir caminho para a instalação no local de uma pista de atletismo revitalizada e profissional (veja imagem acima). "Reforçamos que a realização de um evento como a Ultimate Drift que conta com pilotos internacionais, trará repercussão mundial e mais visibilidade a um espaço histórico tão importante para o esporte mundial, mas que há anos não recebe nenhum grande evento esportivo fazendo com que a nova geração mal saiba da existência do espaço, sendo que o evento da Ultimate drift poderá ser utilizado para que esta nova geração passe a conhecer a história do Local e ajude a incentivar a revitalização do mesmo para que possa voltar a receber eventos de atletismo. Além da gerar milhares de empregos diretos e indiretos, movimentando a rede hoteleira e trazendo movimentação economica e turismo para cidade de São Paulo", diss.Histórico da disputaProjeto do governo de São Paulo para a modernização do Complexo Esportivo Constâncio Vaz Guimarães, no Ibirapuera, Zona Sul de São Paulo.ReproduçãoO Complexo Esportivo Constâncio Vaz Guimarães, no Ibirapuera, é alvo de disputa entre atletas e o governo de SP desde a gestão do ex-governador João Doria (Sem partido), que planejada erguer no local uma arena multiuso coberta para 20 mil pessoas no lugar do estádio de atletismo. O ex-governador chegou a apresentar um projeto onde o espaço também receberia dois edifícios comerciais e o atual ginásio do Ibirapuera seria transformado em shopping center.Na decisão do tombamento provisório pelo Iphan, Larissa Peixoto, presidente do instituto na época, certificou que as propriedades do Conjunto Desportivo, a partir da data do tombamento, "não poderão, em caso nenhum, ser destruídas, demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do Serviço do Patrimônio Histórico e Artistico Nacional, ser reparadas, pintadas ou restauradas, sob pena de multa de 50% do dano causado".O tombamento abrange o Ginásio do Ibirapuera, o Ginásio Poliesportivo Mauro Pinheiro, o Estádio Ícaro de Castro Mello, o Conjunto Aquático Caio Pompeu de Toledo, o Palácio do Judô, quadras de tênis e prédios de administração.Em nota enviada em 2021, o governo de São Paulo informou que tomaria "todas as medidas, sejam elas administrativas ou judiciais, para reverter a decisão publicada hoje pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)". Segundo o texto, o estado considera que não há "qualquer fundamento que ampare o tombamento provisório das instalações do Complexo Desportivo Constâncio Vaz Guimarães (Ibirapuera)".Tombamento do ConprespComplexo esportivo do Ibirapuera inclui estádio com pista de atletismo e ginásioReprodução/Governo de São Paulo.aO Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) arquivou nesta segunda-feira (30) o pedido de abertura de processo de tombamento do Conjunto Esportivo Constâncio Vaz Guimarães, onde fica localizado o ginásio do Ibirapuera, na Zona Sul de São Paulo.O Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental (Conpresp) votou pela abertura do processo de tombamento do Complexo do Ibirapuera, na Zona Sul da cidade, em abril de 2023. O tombamento também abrange o Ginásio do Ibirapuera, o Ginásio Poliesportivo Mauro Pinheiro, o Estádio Ícaro de Castro Mello, o Conjunto Aquático Caio Pompeu de Toledo, o Palácio do Judô, quadras de tênis e prédios de administração.Segundo a nota enviada pela Secretaria Municipal da Cultural, pasta a qual o Conselho é ligado, o assunto será enviado para o Departamento de Patrimônio Histórico (DPH).Decisão frustrou planos Com o tombamento dos dois órgão , qualquer mudança arquitetônica no espaço fica proibida até que os estudos do Iphan sejam concluídos e o órgão dê um veredito final sobre o valor histórico arquitetônico do complexo, mesmo com a rejeição do tombamento feita pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), em novembro do ano passado. O pedido de tombamento foi acolhido pelo Iphan, órgão ligado ao Ministério do Turismo, em 30 de dezembro de 2020, após solicitação do arquiteto Ricardo Augusto Romano Sant'Anna, frequentador do espaço. A abertura do processo paralisou temporariamente o projeto de concessão do complexo à iniciativa privada, promovido pelo governo do estado de São Paulo.Em maio de 2021, o Iphan realizou uma visita técnica no Complexo do Ibirapuera a fim de dar seguimento ao processo de tombamento do conjunto. Na ocasião, o ex-governador João Doria chamou a decisão do Iphan de "descabida" e disse que o complexo não tem "valor arquitetônico que mereça ser mantido" como está, apenas "valor afetivo". Concessão do Complexo do Ibirapuera causa polêmicaCarta públicaUm grupo de professores e pesquisadores da FAU-USP afirmou que estava "extremamente preocupado" com o destino que a gestão Doria pretendia dar ao complexo esportivo do Ibirapuera. Eles são signatários de uma carta pública aberta à comunidade que deu origem ao movimento chamado "S.O.S Ginásio do Ibirapuera". O grupo criou uma petição online que reuniu mais de 6 mil assinaturas e pediu a preservação do prédio, tal qual ele foi concebido. Também se posiciona contra o projeto do governo tucano de conceder as áreas do complexo a empresas privadas. "O projeto [de concessão], tal como estruturado, representa séria ameaça à integridade física e ao funcionamento de um equipamento esportivo que, além de ser muito utilizado na formação de atletas no Brasil, é constitutivo da história da cidade de São Paulo e realização fundamental da história da arquitetura brasileira. Além disso, tem grandes valores de uso e afetivo pela comunidade esportiva que dele faz intenso uso desde os anos 1950", diz a carta pública do movimento. Publicação do grupo "S.O.S Ginásio do Ibirapuera", que quer o tombamento do ginásio na Zona Sul de SP.Reprodução/Redes Sociais Vídeos: Tudo sobre São Paulo e Região Metropolitanad