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Golpe em família: quadrilha furtava remédios para tratamento de câncer comprados com dinheiro público e revendidos para ONG

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Por PATRICIA em 21/01/2024 às 21:08:24

Remédios desviados no interior de São Paulo eram revendidos a uma ONG no Espírito Santo. Quadrilhas roubam remédios de alto custo, comprados com dinheiro público, para vender ilegamente

Criminosos estão se especializando no comércio ilegal de remédios roubados de hospitais e centros de distribuição. São medicamentos de alto custo, comprados com dinheiro público. E a falta deles prejudica o tratamento de pacientes com doenças graves, como o câncer.

Remédios desviados no interior de São Paulo eram revendidos a uma ONG no Espírito Santo, como mostra a reportagem do Fantástico exibida neste domingo (21). Veja a íntegra da reportagem no vídeo acima.

"Não chegou, não tem. E só tem um medicamento que combate isso. Ele é tudo. Ele é minha esperança", diz Sílvio Barone, de 63 anos.

Uma esperança roubada. Sílvio ganhou na Justiça o direito de receber do estado de São Paulo o Pembrolizumabe, remédio usado no tratamento do câncer e que custa quase 22 mil reais a ampola.

A cada três semanas, ele tem de ir a um posto de distribuição em Campinas para buscar o medicamento.

"Fui três vezes. Uma vez no dia 26 de dezembro logo após o Natal. Uma segunda vez no dia 28 e uma terceira vez no dia 4 de janeiro. Voltava para casa sem o medicamento e o tempo passando", diz Sílvio.

Quadrilha furtava remédios para tratamento de câncer comprados com dinheiro público e revendidos para ONG

Reprodução Fantástico

Ninguém do posto de saúde conseguia explicar a falta do remédio. Até que chegou a seguinte notícia, como explica Esmeralda Barrone: "ó, procura porque eu acho que é a medicação do seu Sílvio que foi roubada em Campinas."

"Constatou-se que 79 caixas de um medicamento destinado principalmente ao tratamento de câncer havia sido retirado do estoque", diz Fernando Bardi, diretor do departamento de polícia judiciária de São Paulo interior 2.

Funcionário suspeito

Em 4 de janeiro, Silvio estava no posto e a polícia também. Era o início da investigação. E logo surgiu um suspeito: o funcionário José Carlos dos Santos.

"Ele saiu naquele dia com a nossa presença. E mesmo assim ele teve a ousadia de sair dali com os remédios mesmo a polícia estando no local", disse Elton Costa, delegado da Polícia Civil.

Logo depois que ele saiu, Gabriela Carvalho, enteada de José Carlos, postou em redes sociais que estava no aeroporto de Viracopos, em Campinas, despachando uma encomenda.

"Nós fomos na casa dessa moça. E encontramos inclusive alguns dos remédios, um deles na geladeira, que o remédio tinha mesmo que ser mantido sobre refrigeração e alguns guardados lá pela casa. Tornou-se inequívoca a participação", completou o delegado.

Imagens exclusivas mostram Gabriela e o marido, Michael Carvalho, num escritório de despacho de mercadoria de uma companhia aérea. Levavam medicamentos que José Carlos tinha retirado do depósito do posto de distribuição. Na embalagem dos remédios a indicação: proibida a venda.

José Carlos; a mulher dele, Maria do Socorro; e Gabriela Carvalho foram presos. Michael não foi encontrado pela polícia. No depoimento, Maria do Socorro, que dizia trabalhar fazendo faxinas, confessou a participação no crime.

"O Michael passava as coisas pra mim e eu mostrava pro Zé Carlos", disse Maria do Socorro.

Ao ser questionada se R$ 200 mil em sua conta eram de faxina, respondeu: "Não, era das ações do Zé Carlos."

Michael controlava a venda dos medicamentos furtados. O Fantástico teve acesso a troca de mensagens dele mandando pedidos para Maria do Socorro. Ela repassava para José Carlos.

"Manda mensagem pra ele. Liga pra ele. Manda carta. Manda aqueles carros que faz som do lado de fora. Zé Carlos enche o mochilão. Pra ele poder encher essa mochila", disse Michael para Maria do Socorro em mensagem.

Michael também prestava contas sobre os negócios ilegais. "Dona Socorro, deu 15 mil e 500. Na verdade deu 31 mil, a metade para cada um de nós", disse Michael.

"O Michael acreditamos que seja o cabeça do esquema, que foi ele que possibilitou a criação do mercado ilegal", disse o delegado.

Com o dinheiro, os 2 casais mudaram o padrão de vida. José Carlos e Maria do Socorro gostavam de postar nas redes sociais as viagens que faziam.

A polícia descobriu que a quadrilha atuava há pelo menos um ano no furto de medicamentos. Os investigadores já sabem que 12 pacotes partiram aqui do aeroporto de Viracopos, em Campinas. Como os remédios não tinham nota, encomendas eram declaradas como doação.

O destino dessas encomendas era Vitória, no Espírito Santo. Lá, a polícia descobriu um outro casal envolvido no esquema de desvio dos remédios. Segundo a investigação, Gleidson Lopes Soares e Julianna Ritter eram os compradores.

Gleidson e Julianna dirigem uma ONG de apoio a pessoas com dificuldade de locomoção na cidade de Serra, no Espírito Santo.

Ela, que é assessora parlamentar, é sócia ainda da Saúde e Vida Comércio e Representações, uma empresa de produtos hospitalares. No celular de dona Maria do Socorro foram encontrados comprovantes de depósito feitos na conta da Saúde e Vida e da própria conta da Julianna.

O dizem os citados

O advogado de Gleidson e Julianna disse que ela não participou do negócio e que foi Gleidson que fez a compra dos medicamentos com Michael, mas que ele não sabia que eram furtados.

"Então a esposa forneceu essa possibilidade para que ele, uma relação de confiança esposa e marido, pudesse gerir pudesse trabalhar e utilizando as contas bancárias pessoa física dela e a empresa que estava em nome dela pela mesma razão", afirmou o advogado.

Negou que Gleidson pediu a compra de qualquer remédio contra o câncer. E falou sobre o carro que estava com Michael.

"Esse carro veio através do caminhão cegonha e o Michael ficou incumbido de vender e ganharia um valor de comissão por vender esse carro aqui", disse o advogado.

Já a advogada que representa José Carlos, Maria do Socorro e Gabriella nega que eles tenham furtado as 79 caixas de remédio para tratar câncer. Mas reconhece que José Carlos tirava outros medicamentos para que fossem vendidos.

"A confissão deles vem para colaborar com a nossa tese defensiva de que eles devem ser responsabilizados pelos atos que cometeram, mas na medida de suas culpas", diz a advogada Giovana

A defesa de Michael não foi localizada.

A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo disse que suspendeu o pagamento de José Carlos. Que o departamento regional de Campinas, onde ficavam os remédios, mudou os protocolos de segurança e acesso. E ainda que abriu processo para repor o estoque de medicamentos.

O fornecimento do remédio a Sílvio Barone foi normalizado no dia 12 de janeiro. Mas a interrupção trouxe prejuízos ao tratamento dele.

"Ele não roubou valores, ele não roubou uma caixa de sorvete, ele não roubou um par de sapato. Ele roubou a expectativa de vida de uma família, de uma pessoa que trabalhou a vida inteira."

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Fonte: G1

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