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Conheça a oração à Corina Portugal, santa popular morta pelo marido e que atrai centenas de fiéis em Finados

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Por PATRICIA em 02/11/2023 às 19:16:33

Jovem não é reconhecida como santa pela igreja, mas tem devoção popular de centenas de fiéis. Conheça a história da mulher. Túmulo de santa popular atrai devotos em Ponta Grossa

Ainda que não seja formalmente reconhecida pela igreja católica, Corina Portugal é considerada uma santa popular. Fiéis criaram uma oração para a jovem assassinada pelo marido no século 19. Saiba mais sobre a história dela abaixo.

A oração está fixada no túmulo de Corina, no Cemitério Municipal São José, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais do Paraná. O local atrai centenas de devotos pela fama da santa de atender preces.

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Na introdução, o texto incentiva a intercessão pela santa popular:

"Se você é mãe, esposa, filha, que enfrenta problemas difíceis no lar, no relacionamento com seu marido, companheiro ou namorado; se você está sem trabalho, vai prestar exames ou concursos; se você é alvo de calúnia feita por pessoas maldosas, não se abata e nem aceite passivamente todo esse estado de coisas. Invoque a intercessão da suave e sempre atenta CORINA PORTUGAL, que foi mártir inocente, sacrificada pela insânia do esposo e motivo de escárnio de uma sociedade hipócrita. Reze, pedindo o seu auxílio."

Túmulo de Corina Portugal, em Ponta Grossa (PR)

Millena Sartori/g1

Veja, abaixo, a oração completa.

Oração à Corina Portugal

"Bem aventurada CORINA PORTUGAL, que foste martirizada e difamada, que tombaste no santo recesso do lar pelas trinta punhaladas pelo perverso que te escravizava e humilhava, tenhas compaixão de mim e dos angustiantes problemas que hoje atormentam a minha vida, fazendo-me enxergar só escuridão e desespero.

Guardiã das mães aflitas pelos filhos que caminham na perigosa trilha das drogas, do álcool. Auxiliadora das esposas que não são aceitas ou compreendidas pelos maridos; sentinela das tragédias que podem ocorrer entre noivos e noivas, namorados e namoradas; alma cândida e limpa, alvejada do mar de sangue que há mais de um século ainda mancha a cidade – ouvi meu pedido, levando-o até Nossa Senhora e seu Divino Filho (fazer o pedido).

Com as mesmas mãos retalhadas com as quais tentastes defender-te da fúria assassina de teu carrasco, segurais as minhas, sustentando-me para que me levante do chão da amargura.

Auxiliai-me a vencer todos os obstáculos, protegei à mim e à minha família, dai-nos a todos serenidade, paz, trabalho e compreensão.

Ensina-nos que a vida é um dom de Deus e as mais complicadas situações podem ser resolvidas com fé e com calma, porque a cada dia a e a cada manhã todas as chances nos são devolvidas nesse eterno recomeço"

(Rezar 1 Pai Nosso, 1 Ave Maria, 1 Salve Rainha)

Oração à Corina Portugal fica fixada no túmulo da jovem

Millena Sartori/g1

A história de Corina Portugal

Corina Antonieta Portugal nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 18 de janeiro de 1869.

Aos 14 anos, casou com o farmacêutico Alfredo Marques de Campos, homem onze anos mais velho que ela. O casal foi morar em Realengo, ainda no Rio de Janeiro.

Em 1888, se mudaram para Ponta Grossa, com a ajuda de um médico amigo da família, chamado João de Menezes Dória.

"Alfredo se meteu com jogatina e bebia bastante. Vivia com mulheres meretrizes para baixo e para cima, e Corina ficava em casa. Ela apanhava dele, apanhava bastante; uma vez que ela estava grávida, ele bateu nela e ela perdeu o bebê", conta o historiador Josué Corrêa Fernandes, autor do livro Corina Portugal: História de Sangue e Luz.

Corina chegou a escrever cartas pedindo ajuda para o pai, que continuava morando no Rio de Janeiro:

"Papai… Há três anos que sofro muito, sem nunca queixar-me. Porém já estou cansada e o [Alfredo] Campos se torna cada vez pior, prometeu matar-me. Não posso mais continuar nesse inferno.

Ponta Grossa, 20/12/1888"

De acordo com o relato citado no livro pelo historiador, Alfredo usou a intimidade criada entre Corina e o médico João de Menezes Dória para acusá-la de adultério.

Na noite do dia 24 de abril de 1889, Corina foi morta com cerca de 30 facadas.

Alfredo foi absolvido por utilizar o suposto adultério como justificativa para o crime - o que, na época, era aceito juridicamente.

O caso dividiu opiniões na cidade, que ouviu a versão de Alfredo e os relatos do pai de Corina sobre as queixas da jovem em relação às agressões que vinha sofrendo.

A representatividade do caso da jovem é tão grande que o abrigo para mulheres vítimas de violência doméstica e dependentes delas em Ponta Grossa se chama Casa de Acolhimento Corina Portugal.

Uma santa do povo

Túmulo de Corina Portugal, em Ponta Grossa (PR)

Millena Sartori/g1

Corina Portugal não é reconhecida oficialmente como santa pela igreja católica.

"Trata-se somente de devoção popular. Da parte da Diocese de Ponta Grossa não houve, em momento algum, uma busca por investigar ou propor essa devoção", informa a assessoria da instituição.

Em artigo publicado na Revista Brasileira de História das Religiões, a historiadora Maura Regina Petruski afirma que os relatos de milagres que teriam sido promovidos por Corina começaram com uma mulher chamada Maria e que também era agredida pelo marido.

"[Maria] foi rezar no túmulo de Corina em prol de sua vida conjugal, pedindo sua intercessão para que seu marido mudasse de comportamento. No dia seguinte à sua visita ao campo santo, seu marido parou de beber e tornou-se um homem bom. A partir da divulgação desse fato e com as declarações em torno da mudança de comportamento de seu marido, várias mulheres que passavam por situações semelhantes começaram a visitar esse túmulo em busca de ajuda", explica.

O relato de funcionários durante a transferência do corpo de Corina entre cemitérios fortaleceu ainda mais a construção da "santificação" da jovem, explica Maura.

O fato ocorreu anos após o sepultamento da jovem, mas a data não é especificada.

"Disseram os homens que, ao abrirem o túmulo de Corina, depararam-se com um corpo intacto, rosto resplandecente, semblante alvo e sereno tal qual o de uma santa. O susto foi tanto que os trabalhadores foram chamar o padre da igreja matriz para lhe mostrar o corpo. O pároco lhes pediu silêncio pelo que viram, como forma de não mais alardear a crença de santa que estava sendo construída em torno da falecida, entretanto, isso não aconteceu", destaca a historiadora.

Homenagens mostram devoção popular

O túmulo da "Santinha dos Campos Gerais", como é popularmente conhecida, se destaca pela quantidade de homenagens.

No local é possível ver flores, fitas e mais de 200 placas de agradecimento por "graças recebidas".

Túmulo de Corina Portugal, em Ponta Grossa (PR)

Millena Sartori/g1

O túmulo é simples e tem espaço para apenas um corpo. Não há peças de mármore ou azulejos, como nos demais. As únicas partes revestidas são as destinadas à colocação de velas acesas pelos devotos.

A cor do túmulo pode estar diferente a cada visita, já que a estrutura é pintada com frequência pelos fiéis.

Não há nenhuma lápide na estrutura, como aquelas que mostram mensagens de familiares.

Ao invés disso, há um pequeno painel com o nome, as datas de nascimento e de falecimento dela e um desenho da jovem. Ao fundo, uma foto do Rio de Janeiro, cidade onde ela nasceu.

Na parte de baixo, uma frase que mostra a devoção popular: "Um anjo de Luz a conceder milagres e trazer esperanças".

Para chegar ao túmulo de Corina Portugal, basta entrar no Cemitério Municipal São José pelo acesso do Largo Professor Colares, virar à esquerda na primeira fileira e então à direita após a primeira quadra.

O cemitério abre diariamente das 8h às 17h.

Túmulo de Corina Portugal, em Ponta Grossa (PR)

Millena Sartori/g1

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Fonte: G1

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