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Segunda chance: EJA proporciona continuidade dos estudos para quem não teve oportunidades no ensino regular do AC

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Por PATRICIA em 15/10/2023 às 17:40:28

Modalidade é ofertada em 111 escolas do Acre e atende cerca de 14 mil alunos. Para os alunos, EJA representa a oportunidade de "voar" que não lhes foi dada em algum momento da vida. EJA é ofertado em 111 escolas do estado para pessoas que não seguiram o caminho da escola na infância

Reprodução/Rede Amazônica

Você conhece alguém que por algum motivo precisou parar de estudar ou nunca foi à escola por falta de oportunidades? Para essas pessoas, existe uma segunda chance. O Ensino de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de ensino que garante um direito fundamental: a educação. E tem idade certa para voar?

"Não existe idade para aprender a voar. Tem um ditado popular que o povo diz, que papagaio velho não aprende falar, mas é mentira. A gente aprende sim", afirma a autônoma Francelina Gomes, de 60 anos.

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Dona Francelina morava em um seringal na infância e era muito difícil chegar à escola. Por isso, ela só estudou até a 4ª série. Hoje, aos 60 anos, sabe ler e escrever. Mesmo assim, a matemática e a interpretação de texto ainda são obstáculos. Mas para quem quer ver o céu das nuvens, não existe limite.

"Eu sou aquela aluna que pergunta: professora, como é que escreve isso? Eu devo escrever dessa maneira? Agora mesmo eu perguntei como se escreve "ver", porque tem um "ver" que se escreve com V, E, e o acentinho em cima. Mas também tem o "ver" que se escreve com V, E, R, e eu pergunto: professora é assim que se escreve? Eu gosto de perguntar", acrescenta.

Foi na escola que Dona Francelina descobriu a coragem para voar que sempre esteve com ela.

"A minha maior plateia, sabe quem é? Eu mesma. E o maior empecilho que pode haver é comigo mesma, sou eu mesma. Porque o dia de amanhã não nos pertence, mas se eu estou aqui, andando, com saúde, eu querendo, eu vou conseguir", declara.

Céu não é o limite

Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA) em Rio Branco

Reprodução/Rede Amazônica Acre

Entre os alunos, também há um que está conhecendo pela primeira vez as "técnicas de voo". O autônomo Carlos Barbosa tem 54 anos e nunca tinha ido à escola.

"Eu tive a oportunidade de voar quando eu era criança, não deu. Alguém cortou minha asas né, mas agora ela tá chegando. Não tem idade, eu vou conseguir", afirma.

Carlos aprende o alfabeto e também sobre acolhimento, segundo ele.

"Aqui, eu tô me dando tão bem. Porque olha, eu estou com 54 anos, eu nunca tinha sentido o carinho que eu senti aqui nessa escola. Só em ter sentado em uma cadeira de escola pra mim sabe, para mim foi uma satisfação muito grande e tenho uma professora muito dedicada, ela é nota 10 para mim", avalia.

Professora da EJA, Eriana Torquato comenta que os alunos também acabam ensinando. Ela ressalta que é impossível não se comover com cada trajetória.

"Eles têm muito a nos ensinar todos os dias. A gente tem aqui dentro dessa sala um universo. Cada um com uma história diferente, uma história de vida. E eu falo para eles todos os dias que eu estou aqui para ensiná-los a ler e escrever, mas eles estão me ensinando muito, todos os dias, sobre a vida", ressalta.

Toda a pessoa tem direito à educação. Esse direito está previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) e na Constituição Brasileira. Para esses alunos, faltou a oportunidade de garantir esse direito mais cedo. Mas, na sala de aula, a primeira lição é: nunca é tarde para buscar uma segunda chance.

"Eu quero muito aprender a ler e escrever daqui pros meus 60 anos. Eu quero tirar minha habilitação. Eu mexo com tudo, mas sou analfabeto. Eu tenho dificuldade até de me expressar com as pessoas. Há alguns dias, tive dificuldade para fazer um X, foi preciso alguém me dizer como era", relata Barbosa.

Francelina acrescenta ainda que não pretende parar de voar tão cedo. O objetivo dela é chegar a uma faculdade, e olhar para seu trajeto com orgulho.

"Se eu não desistir, que eu não pretendo, em nome de Jesus, vou chegar em uma faculdade. E um dia, quem sabe, se vocês não vão estar fazendo essas perguntas para mim, e eu vou estar dizendo: vocês fizeram lá atrás, há anos, mas hoje eu conclui", diz.

Aqueles que já ganharam o céu são exemplos de superação. A professora Antônia Domingos foi aluna do ensino de jovens e adultos, fez faculdade e chegou a ser coordenadora do EJA.

"Eu fui aluna, e sei o quanto isso representa na nossa vida. Todos aqueles que estão com vontade, com desejo de aprender. Aqui eles têm todo o suporte. A gente tem dificuldades? Tem! Mas a gente tem grandes alegrias", pondera.

O ensino de jovens e adultos é ofertado em 111 escolas do estado. Mais de 14 mil alunos estudam nesse modelo, que é separado em três módulos. O secretário estadual de Educação, Aberson Carvalho, afirma que têm sido feitos investimentos para garantir essas oportunidades.

"O governo tem feito um grande investimento na educação de jovens e adultos, e esse investimento visa justamente garantir para aqueles que precisam, para aqueles que desejam, para aqueles que querem ainda estudar, que eles possam ter essa oportunidade", destaca.

Após o primeiro voo, esses alunos entendem que a escola não ensina apenas a ler ou escrever, e ecoam as palavras de Rubem Alves:

"Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle, engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono, deixaram de ser pássaros, porque a essência dos pássaros é o voo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado".

Ensino de jovens e adultos dá direito básico à educação

VÍDEOS: g1

Fonte: G1

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