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Mobilidade sustentável para evitar colapso no trânsito brasiliense

Menos carros nas ruas, mais mobilidade ativa e investimentos maciços em transporte público de massa.

Por PATRICIA em 23/09/2023 às 06:39:27

Perda de passageiros

Levantamento mais recente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) revela que o ônibus urbano perdeu quase 8 milhões de viagens diárias em três anos. O presidente executivo da NTU, Francisco Christovam, atribui parte da crise do setor a um frágil serviço prestado, mas ressalta que a conjuntura econômica contribuiu para isso. "Com a pandemia, perdemos 80% dos passageiros e, com isso, a receita caiu. Desse total, ainda precisamos recuperar de 15% a 17% dos usuários e não sabemos se eles voltarão ao sistema", afirma.

Para melhorar a qualidade do transporte público, Francisco Christovam defende o subsídio do sistema e o compartilhamento da responsabilidade entre setores público e privado. "Atualmente, em 168 cidades, parte da tarifa é subsidiada. Em Brasília, o percentual chega a 60% do valor da passagem", diz. Para ele, o argumento dos governos de que não há recursos para custear parte da passagem não se sustenta. "Pode-se criar taxa de congestionamento, cobrança de estacionamento, há discussão até de se destinar parte do IPTU para o transporte público. Os mais ricos não usam o coletivo, mas se beneficiam do sistema quando os empregados o utilizam", enfatiza.

Rômulo Ribeiro, professor dos Programas de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo e em Transportes da UnB, acredita que o transporte público deveria estar nas mãos do governo. "Este, por sua vez, deve investir em ônibus novos, em mais veículos circulando e rever toda a programação de circulação. O sistema está dentro do setor privado, que visa ao lucro, obviamente", observa. "Temos que investir em VLT para curtas distâncias (na W3 e Eixo Monumental, por exemplo) para diminuir, inclusive, o fluxo de ônibus. BRT é uma aposta certa. Mas precisa ser melhor planejado. Não temos BRT ligando Planaltina ao Plano Piloto, por exemplo. É uma população periférica que usa um transporte muito deficitário", acrescenta.

O professor Aldo Paviani afirma também que não vê mobilidade em Brasília na próxima década sem um trem suburbano. Segundo ele, mais de 150 mil pessoas vêm diariamente da região metropolitana para o DF, onde trabalham, estudam e buscam por serviços como saúde e educação. "Só um trem a cada meia hora vai superar um problema desta magnitude. Os governos dizem que é caro. Caro é ter ônibus circulando, gastar com pneu, com gasolina, com óleo, com salário de cobrador e motorista. Ao longo do tempo o trem se paga. O ônibus só dá custos", diz.

Plano Diretor

O professor Pastor Willy Taco, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB), ressalta a importância de um planejamento urbano por parte do GDF. "Para começar, é preciso elaborar um Plano Diretor de Mobilidade. Embora tenhamos alguns dados do IBGE, como o fato de Brasília ter sido a cidade que mais cresceu, e de ter a maior favela do país, precisamos entender como está a urbe do ponto de vista da ocupação urbana. A pandemia mudou os padrões de deslocamento das pessoas e, conhecer esse novo fluxo é fundamental para elaborar qualquer política de mobilidade a curto, médio e longo prazos", sugere. "É preciso repensar também alguns investimentos em infraestrutura. A tecnologia, a inteligência artificial podem e devem ser usadas como aliadas da gestão do sistema de transporte público e da mobilidade. Alguns países já têm uma plataforma com desdobramentos por intermédio de aplicativos: une ônibus, metrô, bicicleta compartilhada, carro por aplicativo. O usuário escolhe um pacote de como quer fazer cada trecho do deslocamento", completa.

O professor da UnB e especialista em Transporte Público e Trânsito, José Matsuo Shimoishi destaca a importância da atualização da pesquisa Origem-Destino (O/D) no DF, para que os governantes possam conhecer melhor os usuários das vias públicas. "A última pesquisa foi feita há mais de 10 anos. Quem governa precisa entender de onde as pessoas saem, para onde vão, qual modal usam. Não dá para implementar melhorias com base no achismo", lembra.

A pesquisa faz parte do Plano Diretor de Transporte Urbano do DF (PDTU/DF) e a última foi realizada em 2011. Segundo a Secretaria de Transporte e Mobilidade do DF (Semob), tratativas estão em curso para fazer a atualização e a revisão do PDTU/DF ainda neste semestre. O plano fundamenta-se na articulação dos vários modos de transporte com a finalidade de atender às exigências de deslocamento da população, buscando a eficiência geral do Sistema de Transporte Público Coletivo do Distrito Federal (STPC/DF) e garantindo condições adequadas de mobilidade para os usuários.

A secretaria está em processo de finalização de um convênio com o Laboratório de Transporte e Logística (Labtrans) — instituição que faz parte da Universidade Federal de Santa Catarina — para atualização do Plano Diretor de Transporte Urbano e Mobilidade do Distrito Federal (PDTU-DF) e elaboração do plano de mobilidade previsto na Política Nacional de Mobilidade Urbana.

 

Fonte: Correio Braziliense

Tags:   Transporte
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