logo banner
Centro automotivo Eder

Homens ignoram 'zombaria' e passam a usar sobrenome da esposa como 'prova de amor'; VÍDEO

Por PATRICIA em 11/03/2023 às 06:11:17

Desde 2002, legislação conferiu igualdade de direitos, tanto homens quanto mulheres podem adotar o sobrenome do outro. Pesquisa da Arpen-SP aponta queda de 30% no número das mulheres que mudaram nome ao casar. Homens no litoral de SP passam a usar sobrenome da esposa como 'prova de amor'

Uma pesquisa da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo (Arpen-SP) apontou que a possibilidade de adoção do sobrenome da mulher pelo homem ainda 'não vingou' na sociedade, sendo apenas 0,6% das escolhas em 2021. No mesmo ano, a mudança por ambos foi de 7,1%. O g1 conversou com um técnico de enfermagem e um pastor, moradores do litoral de São Paulo, que optaram por colocar o nome da esposa. Segundo eles, a decisão representa a cumplicidade do casal e é como uma prova de amor.

Homens no litoral de SP acreditam que adotar sobrenome da esposa é um gesto de cumplicidade e prova de amor

Arquivo Pessoal

Segundo o levantamento, o número de mulheres que adotou o sobrenome do marido ao casar nos últimos 20 anos registrou uma queda de 30% no Estado de São Paulo. Em 2002, com a publicação do atual Código Civil Brasileiro, o percentual de mulheres que adotaram o sobrenome do marido ao casar representava 82,2%. Entre 2002 e 2010, o número caiu para 65,5%. Essa opção ficou menor ainda, totalizando 61% entre 2011 a 2020.

Adoção de sobrenome após o casamento no Estado de São Paulo

Cumplicidade

Moradores de Santos, no litoral de São Paulo, o casal de técnicos de enfermagem Gabriel Pena dos Santos Souza Alves, de 34 anos, e Mariana Batista Alves Pena, de 26, se conheceu, em 2020, trabalhando em um hospital de campanha durante a pandemia de Covid-19 em Praia Grande, cidade vizinha.

Gabriel disse ao g1 que a decisão de também colocar o sobrenome da esposa foi dele. "Falei que só casava se ela me desse o nome dela e ela pegasse o meu".

Mesmo com a decisão, o casal afirmou que não sabia da lei que permitia que o marido também aderisse ao sobrenome da esposa. "Ficamos até com medo do cartório não deixar", disse Mariana.

Para o técnico de enfermagem, a mudança repercutiu de forma positiva com os familiares, que ficaram felizes em ver que o gesto representava uma cumplicidade do casal. "Eles gostaram, acharam primeiro estranho porque, geralmente, é sempre a mulher que carrega o nome do marido".

Técnico de enfermagem de Santos, no litoral de SP, afirmou que decisão de colocar sobrenome da esposa ao casar foi dele

Arquivo Pessoal

"Minha criação sempre falou que a gente casa para ter uma vida toda, então fui criado [sabendo] que o relacionamento, apesar que chegue em um momento em que ele possa ter uma hora que desande, a gente precisa baseá-lo na conversa e no diálogo, então eu quis carregar o nome dela por uma vida toda", afirmou Alves.

Segundo ele, os casais estão muito desacreditados. "Hoje em dia qualquer discussão, qualquer briga já é motivo de divórcio, de separação. O casal de hoje não consegue sobreviver a uma dificuldade. A primeira dificuldade que tem procuram o caminho mais fácil que tem para solucionar, que é separar".

"Não é vergonhoso o homem colocar o nome da pessoa que ama no meio do seu nome. Muitos ficam só naquele pensamento antigo de que só a mulher é obrigada a colocar o nome dele, mas se você ama, qual o problema de colocar o nome dessa pessoa? Não vai te fazer menos homem, pelo contrário, vai te fazer um cara mais feliz", disse o técnico de enfermagem.

Mariana confessa que foi uma surpresa quando ele falou que colocaria o sobrenome dela. "Fiquei bastante feliz porque não entrei nessa sozinha. Primeira vez que ouço e vejo alguém falar 'eu quero carregar o seu nome também'. Me senti bem feliz na hora".

Para Gabriel, aderir ao sobrenome da mulher repercutiu de forma positiva com os familiares em Santos, SP

Arquivo Pessoal

Para ela, muitas mulheres deixaram de colocar o sobrenome do marido por causa da burocracia para retirá-lo caso o casamento não dê certo. "Além de ter uma burocracia toda, a mulher tem que desembolsar um valor para sair a certidão de divórcio e a mulher que carrega ali divorciada".

Mariana, que já tinha uma filha de oito anos, falou sobre a gravidez do primeiro filho, que nasceu em outubro, com o marido. "Estamos animados. No meu caso, assustado porque sou pai de primeira viagem, rezo a Deus, espero ser um bom pai para meu filho, mostrar essa criação e passar esse exemplo para ele", disse Gabriel.

Prova de amor

O pastor Gilclay Leite dos Santos Capitelli, de 33 anos, e a dona de casa Larissa Xavier Capitelli Leite, de 42, se conheceram em um retiro de carnaval na igreja em fevereiro de 2009. Os dois foram apresentados por meio da Lívia, filha que Larissa tinha do primeiro casamento.

"Quando ela voltou desse retiro, aí perguntei dele e ela falou para eu casar com ele. Para mim foi um susto, como eu tinha separado, ela não gostava que eu me aproximasse de ninguém", disse a dona de casa.

Depois de se conhecerem, eles começaram a namorar em 5 de março, ficaram noivos em 30 de maio e casaram em novembro do ano seguinte. O casal, que mora em Cubatão (SP), teve uma filha que faleceu em 2013 e, na sequência, Lorenzo, em 2016, e Leonardo, em 2018. Mesmo não sendo pai biológico de Lívia, ela considera Gilclay como pai e ele a considera como filha.

Lívia, filha de Larissa foi responsável por aproximar o casal de Cubatão (SP) após um retiro de carnaval na igreja

Arquivo Pessoal

Ele afirmou que sempre foi contra a cultura de que só a esposa pegue o sobrenome do marido. "Não pensei duas vezes. Já era um interesse, principalmente meu, de colocar o nome dela no meu. Eu quis fazer isso, ninguém pressionou. Foi algo muito natural e legal de se fazer".

"Uns brincam, outros tiram sarro, outros falam que não vão pegar, que é só a esposa que tem que pegar do marido, mas sempre tive essa convicção de que a gente era um só e que não era justo só ela pegar o nome. Como estava casando, era justo eu pegar o nome dela", disse o pastor.

Segundo ele, muitas pessoas ainda desconhecem a possibilidade do marido também fazer a alteração. "É uma questão ue para mim não é cultura, é um pouquinho ultrapassada. Não muda nada em você. Para mim é um orgulho ter o sobrenome da minha esposa".

Larissa enxergou o gesto do marido como uma atitude de amor. "Tudo foi muito de Deus na nossa vida, inclusive, nossa filha conheceu ele antes do que eu. Quando ele decidiu fazer isso, encarei como uma atitude de amor, achei muito interessante ele querer ter o meu nome também. Quebrando tabus porque muitos tiram sarro e acham desnecessário".

Gilclay afirmou que sempre foi contra a cultura de que só a esposa pega o sobrenome do marido

Arquivo Pessoal

"Eu encaro essas risadas muito de boa, muito tranquilo. Acho que é uma questão de choque e um choque que não deveria ocorrer. Ao passo que tive pessoas que tiraram sarro, tinham pessoas que demonstraram arrependimento [de não ter colocado]. Acho que é uma minoria, mas as pessoas que acharam legal gostaram bastante", afirmou o pastor.

Para ele, as brincadeiras e até preconceito por ter colocado o nome da esposa não são nada perto do amor que sente por ela. "O preconceito fica por último porque o amor ao outro, ao próximo, no caso a minha esposa, fala muito mais alto do que tudo aquilo que a sociedade pensa".

"Se for para usar uma palavra é uma prova de amor de que você não se importa com aquilo que a sociedade pensa, daquilo que a sociedade impõe, mas sim com os princípios que Deus coloca. Eu vejo como uma prova de amor de você quebrar barreiras e honrar a vida um do outro. Honrar a vida da sua esposa", finaliza Capitelli.

Certidão de casamento de Gilclay e Larissa mostra como nomes após ambos adotarem o sobrenome do outro

Arquivo Pessoal

O que diz a Lei

O advogado Thyago Garcia explica que, hoje em dia, acrescer o sobrenome é uma opção tanto do homem quanto da mulher, porém, nem sempre foi assim. "Entre 1916 e 1977, de acordo com as regras do Código Civil vigente, a mulher era obrigada a acrescentar o sobrenome do marido ao seu nome".

Segundo Garcia, após 1977, tornou-se facultativo o acréscimo do sobrenome, mas, apenas em 2002, com a entrada em vigor do Novo Código Civil, a legislação conferiu igualdade de direitos, tanto homens quanto mulheres podem adotar o sobrenome do outro, inclusive, após o casamento.

"Hoje em dia, para realizar a alteração do sobrenome, inclusão ou exclusão, basta comparecer no cartório e manifestar o desejo, não sendo mais necessário ajuizar procedimento judicial ou contratar advogado para fazer valer o direito de alterar documentos pessoais", disse o advogado.

Garcia explicou, ainda, que a única regra é que a ordem seja a mesma para os dois, já que a ideia de adoção do sobrenome do outro é para demonstrar unidade familiar. "Assim, se o nome de um for 'Souza Lima', o do outro não poderá ser 'Lima Souza', por exemplo".

Certidão de casamento de Gabriel e Mariana mostra como nomes após ambos adotarem o sobrenome do outro

Arquivo Pessoal

VÍDEOS: Mais assistidos do g1 nos últimos 7 dias

Fonte: G1

Comunicar erro
LINK NET

Comentários