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Atentado em Aracruz: 'Pavor de passar na frente de uma escola', diz última professora a deixar hospital

Por PATRICIA em 29/01/2023 às 05:43:14

Tragédia completou dois meses na quarta-feira (25). Quase um mês após a alta do hospital e a poucos dias da volta às aulas na Rede Estadual, Aristênia Torres Mancini, fala sobre o processo de recuperação. Aristênia Torres Mancini, professora vítima de ataque à escolas em Aracruz, ES

Arquivo pessoal

Quase um mês após a alta do hospital e poucos dias antes da volta às aulas na rede estadual, a professora de Língua Portuguesa da Escola "Primo Bitti", Aristênia Torres Mancini, uma das vítimas do ataque a escolas em Aracruz conversou com o g1 sobre o processo de recuperação e retomada das atividades em sala de aula. A tragédia completou dois meses na quarta-feira (25).

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Aristênia ficou internada no Hospital Estadual Jayme Santos Neves, na Serra, Grande Vitória, e teve alta no dia 31 de dezembro.

"Fiz muitas amizades, a equipe é fantástica. Fui tratada com muito carinho pelo médicos, equipe de enfermagem e de limpeza. Só tenho agradecimento, eles me trouxeram à vida novamente", disse a professora.

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Aristênia Torres Mancini, professora ferida em atentado a escolas de Aracruz, recebeu alta no dia 31 de dezembro

Arquivo pessoal

Recuperação

Moradora de Aracruz, a professora atualmente está na casa da mãe, em Domingos Martins, se recuperando dos ferimentos.

A professora foi atingida por seis tiros e, há poucos dias, foi ao médico para tirar os pontos e as talas da perna e do braço esquerdo.

Até a data da entrevista, Aristênia seguia fazendo fisioterapia, mas ainda não havia voltado a andar.

"Não tenho os movimentos de abrir e fechar os dedos. Preciso me locomover com a cadeira de rodas porque minha perna esquerda ainda está muito debilitada, não posso andar. Até para tomar banho, preciso de cadeira. Não posso botar o pé no chão, dependo da minha mãe para tudo. Cada dia é um obstáculo que a pessoa vai vencendo", contou a professora.

De acordo com Aristênia, alunos e ex-alunos e até desconhecidos têm enviando muitas mensagens de carinho e apoio.

"Tenho me sentido muito abraçada, muito amada. Ex-alunos que não via há anos me procuram com mensagem de carinho. São vinte anos na mesma escola, muita gente conhecida e querida por mim que eu tinha perdido contato e reapareceram", falou.

"Sou imensamente grata a Deus e a nossa Virgem Maria e a todas as orações. São pessoas que eu nem conheço mas que estão rezando para que todos nós fiquemos recuperados dessa tragédia", completou.

Professora de Língua Portuguesa da Escola Estadual Primo Bitti, Aristênia Torres Mancini, foi para a casa da mãe se recuperar de ferimentos de tiros do atentado a duas escolas de Aracruz, ES

Arquivo pessoal

Trauma

Mesmo com tanto carinho e apoio, Aristênia falou que ainda enfrentava os traumas dos momentos de terror vividos no dia do ataque.

"Qualquer barulho que às vezes eu ouço, que é um pouco mais alto, pode ser até um foguete, mas acho que é um tiro. Ontem mesmo, estava dormindo e, umas 2h da manhã, eu falei 'mãe que tiro foi esse?'. Não teve tiro nenhum. Tive um pesadelo pensando que fosse um tiro de novo. Junto com a minha mãe aqui estamos pedindo o tempo inteiro a Deus que a humanidade valorize a vida humana", disse a professora.

Nos últimos dias Aristênia contou que vinha refletindo sobre tudo que aconteceu no atentado.

"São 60 dias de muita reflexão e luta. Ele [o assassino] destruiu o sonho de várias pessoas da minha escola em pouco mais de 50 segundos. Isso é devastador. Esse ato para mim foi terrorista, porque matar friamente alguém que estava no seu momento de lazer, de recreio, é terrorismo", falou.

"Meu Deus do céu, acho que não dá nem pra imaginar o que vivi. As pessoas foram atingidas de forma gratuita sem ter feito nada com ninguém", completou.

Sobre a proximidade da volta às aulas, a professora disse que ainda não pensa em voltar a lecionar.

"Ainda não consigo conversar sobre volta às aulas. Só de pensar fico ansiosa. Tantos anos dando aula e hoje em dia tenho pavor de passar na frente de uma escola, sabe?", confessou.

"Todos nós professores estamos fazendo tratamento com psicólogo e psiquiatra. É uma dor muito grande que não dá pra comparar com nada. Peço a Deus que ninguém venha passar por um mal terrível como esse", disse Aristênia.

O ataque

Selena Sagrillo, Maria da Penha Banhos, Cybelle Bezerra e Flavia Amos, vítimas do ataque a escolas em Aracruz

Reprodução/TV Gazeta

O ataque a duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo, deixou quatro mortos e 12 feridos.

O assassino, de 16 anos, estudou até junho no colégio estadual atacado. A investigação apontou que o ataque foi planejado por dois anos e que o criminoso usou duas armas do pai, um policial militar.

Os disparos aconteceram por volta das 9h30 na Escola Estadual Primo Bitti e em uma escola particular que fica na mesma via, em Praia de Coqueiral, a 22 km do centro do município. Aracruz, onde o ataque aconteceu, fica a 85 km ao norte da capital.

Ataque a escolas em Aracruz deixa mortos e feridos

Arte/g1

Segundo a Secretaria de Segurança Pública, o assassino arrombou dois portões e invadiu, pelos fundos, a escola estadual. Com uma pistola, ele foi até a sala dos professores e atirou contra os educadores. Duas professoras morreram no local. Nenhum aluno foi baleado na primeira escola.

Na sequência, o atirador deixou a escola estadual em um carro e seguiu para a escola particular Centro Educacional Praia de Coqueiral. Na unidade, uma aluna foi morta. Após o segundo ataque, o assassino fugiu em um carro. Ele foi apreendido ainda na tarde após o ataque.

Um dia após o atentado, a Polícia Civil informou que o criminoso vai responder por ato infracional análogo a três homicídios e a 10 tentativas de homicídio qualificadas. Também no dia seguinte ao ataque, uma professora baleada na primeira escola, que estava internada, morreu.

No dia 4 de dezembro, o assassino foi sentenciado a cumprir até três anos de internação. O tempo é o limite máximo estabelecido como de medida socioeducativa para adolescentes pela lei.

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Fonte: G1

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