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Melhor idade? O desafio de envelhecer nas periferias da capital federal

Por PATRICIA em 27/12/2022 às 07:20:17

Nordestinos são maioria

Segundo a pesquisa de Projeções Populacionais para as Regiões Administrativas do Distrito Federal 2020-2030, do Instituto de Pesquisa e Estatística (IPEDF), em 2030, 16,6% da população do Distrito Federal terá 60 anos ou mais. Quase dobrando a quantidade de idosos se comparado com o ano de 2020, em que o percentual era 9,3%. Além disso, o estudo indica que 94% das pessoas idosas que residem no DF não são naturais da localidade, sendo que, desse total, 62,9% são da região Nordeste do país.

Natural de Teresina, no Piauí, Maria do Perpétuo Socorro Lemos, 67, veio para Brasília em um pau-de-arara com a mãe e os irmãos há 56 anos. Mãe de quatro filhos, Maria mora com o mais novo, Leonardo, de 29 anos, e a cadela da família, que não sai do lado da dona. No sobrado, dividido em duas residências, uma das filhas ocupa uma delas com dois netos da idosa. Com tudo arrumado e decorada com plantas, ela dividia a rotina, antes de se aposentar, entre o trabalho e os cuidados com um irmão acamado, que faleceu há um mês. "A minha vida é lutar, ajudar as pessoas com o que posso. Se eu vejo uma garrafa de vidro no meio da pista, vou lá tirar. Fico preocupada que passe um carro e fure um pneu", argumenta.

Esbanjando alegria e vitalidade, a aposentada se mantém ativa e não se deixa abalar pela idade. Ela conta que faz ginástica e dança de graça em um projeto do Corpo de Bombeiros, além de participar de um coral para a terceira idade. "Faz bem para a saúde da gente. Tem pessoas que se aposentam e ficam quietas dentro de casa, só querendo ficar em cima de uma cama. Isso tem que acontecer apenas se quebrar algo e não puder fazer as coisas, mas enquanto eu tiver pernas para andar e força, eu farei até o dia que Deus permitir", pontua a moradora de Samambaia Norte.

Para a aposentada, é necessário melhorar, principalmente, a infraestrutura e a saúde na capital. "Acho muito ruim nas cidades que elas não são adaptadas para os mais idosos. Aliás, nem para as crianças nem para ninguém. Porque eu já levei dois tombos e quebrei os dois braços", avalia a aposentada. Maria recorda que, quando fraturou os ossos, foi a dois hospitais públicos e, por não conseguir atendimento, recorreu a um particular. "Nós precisamos de saúde e de atendimento preventivo, não adianta só construir hospital", destaca. O estudo do IPEDF mostra que a maioria das pessoas idosas do DF não têm plano de saúde (56,5%).

Do outro lado da cidade, no Paranoá, a dona de casa Joana Evangelista Silveira, 62, conta que não enfrenta dificuldades para conseguir atendimentos nas unidades de saúde pública do DF. "Graças a Deus, eu não tenho o que reclamar da saúde. Toda vez que eu vou lá no posto, sou atendida", comenta a idosa. Para ela, o que falta é segurança. "Ainda tem muito assalto aqui, mas isso infelizmente está em todo o lugar", lamenta.

Com uma vida dedicada a cuidar da família, Joana é mãe de oito filhos e mora em um apartamento simples com dois deles, além do marido, com quem é casada há 28 anos. "Meu dia-a-dia é cuidando de casa e de neto. No fim de semana, eu sempre vou para uma praça da região aqui, porque trabalho com bazar. Quando eu tenho um tempinho, eu faço os meus artesanatos para decorar casa", comenta a idosa, que usa a internet para ver vídeos sobre técnicas de produtos manuais.

De acordo com a pesquisa do IPEDF, 66% das pessoas idosas do DF acessaram a internet em 2021. O estudo também indica o nível de escolaridade desta faixa etária: sendo que 26,8% têm nível superior completo, seguido de fundamental incompleto, 24,1% e médio completo, 21,5%. As pessoas idosas sem nenhuma instrução representam 12% desse grupo populacional. A terceira edição da pesquisa sobre os hábitos da população da capital federal, também produzida pelo instituto, mostra que, em relação à dificuldade no uso de internet e redes sociais por faixa etária. Quase 45% dos entrevistados entre 60 anos ou mais concordam que têm mais dificuldades em acessar aplicativos para se informarem sobre serviços públicos ou privados.

Melhorias para o idoso

Segundo o pesquisador da área do Envelhecimento e Longevidade e professor na Universidade de Brasília (UnB), Otávio de Toledo Nóbrega, é necessário que a Política Distrital do Idoso (Lei Nº 3.822/2006) saia do papel. Para o pesquisador, isso fará com que essas pessoas tenham uma vida mais digna, além de ressaltar a importância da estruturação e funcionamento do conselho. "Não se trata de concentrar a discussão em uma única instância, mas de qualificar, trazendo a discussão para a seara de quem entende o assunto. E um esvaziamento do Conselho dos Direitos do Idoso do Distrito Federal (CDI-DF) sempre será um golpe contra essas pessoas", ensina.

O especialista destaca que o Governo do DF pode melhorar a atenção a esse público de várias formas, como assegurar recursos para o Fundo Distrital do Idoso (FDI-DF), para que o conselho possa financiar instituições de longa permanência e centros de convivência com eficiência, dando dignidade às pessoas, além de implementar uma escuta qualificada das entidades da sociedade civil que lidam com questões geriátricas/gerontológicas.

Em relação a saúde, a Secretaria de Saúde informou que até novembro deste ano foram realizados 9.786 atendimentos ambulatoriais realizados por médico geriatra. Já a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus), por meio da Subsecretaria de Políticas para Idoso (Subidoso) e em parceria com o CDI-DF realiza a Capacitação virtual sobre o envelhecimento e garantia dos direitos dos 60 .

Além disso, a Sejus também promove o programa Sua vida vale muito. Em formato itinerante, o projeto circula pelas regiões administrativas do DF oferecendo serviços de saúde, bem-estar e assistência social e jurídica de forma gratuita para pessoas acima de 60 anos. Além disso, são feitas capacitações com o objetivo de coibir e prevenir a violência contra o idoso e ofertadas a ouvidoria.

A Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) informou que as políticas públicas para os idosos são aquelas definidas no âmbito do transporte público coletivo, como as gratuidades, os assentos prioritários, os ônibus acessíveis, as acessibilidades e prioridades de embarque nas estações e terminais, além dos treinamentos aos motoristas para atendimento especial a esse público. Já a Secretaria de Esportes avaliou que os Centros Olímpicos e Paralímpicos transformam o dia a dia das crianças, jovens e idosos, sendo de fundamental importância para as comunidades do DF. O espaço oferece atividades para todos os públicos.

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Fonte: Correio Braziliense

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