logo banner
Centro automotivo Eder

Delegado da PF diz que houve interferência na condução do caso Milton Ribeiro

Por PATRICIA em 23/06/2022 às 21:24:17

Bruno Calandrini afirmou que o ex-ministro não foi transferido para Brasília após ser preso em Santos em razão de decisão superior e que não tem autonomia para conduzir o inquérito com independência. A Polícia Federal informou que vai apurar a denúncia. Delegado da PF diz que houve interferência na condução do caso Milton Ribeiro

Menos de 24 horas depois de o presidente Jair Bolsonaro ter afirmado que as prisões de Milton Ribeiro e de mais quatro pessoas eram um sinal de que a Polícia Federal está agindo, o delegado responsável pelo caso mandou uma mensagem para os colegas da PF. O delegado afirma que houve interferência na condução da investigação.

Na quarta-feira (22), em entrevista à rádio Itatiaia, o presidente Jair Bolsonaro disse que a prisão do ex-ministro Milton Ribeiro era a prova de que a Polícia Federal estava fazendo seu trabalho e, segundo ele, sinal de que não há interferência na PF.

“Se tem prisão, é Polícia Federal. É sinal de que a Polícia Federal está agindo. Ele responda pelos atos dele. Peço a Deus que não tenha problema nenhum, mas, se tem algum problema, a PF está agindo, está investigando. É um sinal que eu não interfiro na PF, porque isso aí vai respingar em mim, obviamente”, disse Bolsonaro.

Mas um dia depois, em mensagem enviada à equipe, o delegado Bruno Calandrini, que comandou a operação, afirmou que houve interferência na condução da investigação. O conteúdo foi publicado pelo jornal "Folha de S.Paulo". A TV Globo também teve acesso ao texto.

No início da carta, o delegado agradece ao empenho dos colegas. Em seguida, Bruno Calandrini afirma que a Polícia Federal teria dado tratamento diferenciado a Milton Ribeiro. O ex-ministro deveria ter sido levado de Santos para Brasília, segundo a decisão judicial que autorizou a prisão. O delegado faz uma acusação gravíssima.

"O deslocamento de Milton para a carceragem da PF em SP é demonstração de interferência na condução da investigação. Por isso, afirmo não ter autonomia investigativa e administrativa para conduzir o inquérito policial deste caso com independência e segurança institucional", diz ele na carta.

O delegado afirma que o ex-ministro não foi transferido para Brasília em razão de uma decisão superior. Por causa disso, segundo Calandrini, a investigação foi obstaculizada.

O delegado afirma que as equipes que cumpriram a missão desta quarta "trabalharam com obstinação nas ruas e no suporte operacional, um trabalho hercúleo para o cumprimento dos mandados e foram aguerridos em capturar todos os alvos, referência especial às equipes de Goiânia, que, mesmo após a prisão, ainda escoltaram os presos via terrestre, para a Superintendência da Polícia Federal no Distrito Federal”.

No fim do texto, o delegado volta a acusar: afirma que o ex-ministro da Educação teve regalias: o principal alvo, em São Paulo, - o ministro Milton Ribeiro - "foi tratado com honrarias não existentes na lei, apesar do empenho operacional da equipe de Santos que realizou a captura.”

E conclui dizendo: “É o que tinha a manifestar em lealdade a vocês que cumpriram a missão de ontem com o espírito do verdadeiro policial federal.”

Nesta quarta-feira (22), a defesa chegou a pedir que Milton Ribeiro não fosse levado para Brasília e que fizesse a audiência de forma remota, de São Paulo. O juiz Renato Borelli negou o pedido. Mas, horas depois, chegou ao juiz um ofício da Polícia Federal assinado pelo diretor de Combate ao Crime Organizado da PF, Caio Pellim, alegando duas razões para não levar Milton Ribeiro e outros presos para Brasília: falta de dinheiro e exposição dos presos.

No documento, obtido pelo repórter Bruno Tavares, a PF escreve: “ante a restrição orçamentária, bem como a fim de se manter a integridade física dos presos e evitar exposição desnecessária, recomendável que a audiência de custódia seja realizada remotamente ou, em último caso, pelo juiz federal competente da localidade das prisões”.

Depois desse ofício, o juiz aceitou fazer a audiência de custódia de alguns investigados, entre eles Milton Ribeiro, de forma remota, e o ex-ministro acabou dormindo na sede da PF em São Paulo.

Mas na decisão sobre isso, o juiz Renato Borelli fez críticas à Polícia Federal por não ter levado os presos para Brasília:

“Os órgãos públicos envolvidos com a segurança pública devem envidar os esforços necessários ao cumprimento da determinação legal, considerando que o Brasil é um Estado de direito, no qual as leis são aplicadas a todos, indistintamente” e que “além disso, há de se verificar que se trata de ordem judicial, para a qual deve ser conferido o cumprimento sem limitações, sob a possibilidade da incidência das providências legais decorrentes e pertinentes ao caso”.

Depois que a mensagem do delegado se tornou pública, a Polícia Federal informou que vai apurar o caso, mas chamou de boatos a denúncia de interferência feita por Bruno Calandrini: “Considerando boatos de possível interferência na execução da operação Acesso Pago e objetivando garantir a autonomia e a independência funcional do delegado, informamos que foi determinada a instauração de procedimento apuratório para verificar a eventual ocorrência de interferência, buscando o total esclarecimento dos fatos”.

O presidente da Associação de Delegados de Polícia Federal, Luciano Leiro, disse que vai cobrar a apuração do caso: “Defender as prerrogativas dos delegados de polícia no que tem de mais caro para nós, que é autonomia investigativa da Polícia Federal. Então, nós vamos acompanhar, vamos cobrar da direção que seja apurado efetivamente”.

Além desse caso, a Polícia Federal também terá de apurar ameaças contra o juiz Renato Borelli. Nesta quinta, a assessoria da Justiça Federal informou que, após a decisão de mandar prender Milton Ribeiro, o juiz foi alvo de centenas de ameaças de grupos que apoiam o ex-ministro. Parte delas, pela internet, por e-mail. Diante disso, o juiz informou à Polícia Federal e pediu uma investigação sobre as ameaças que recebeu.

Em uma transmissão pela internet, na noite desta quinta-feira (23), o presidente Bolsonaro disse que exagerou ao dizer que botava a cara no fogo pelo ex-ministro Milton Ribeiro. Agora, segundo o presidente, põe apenas a mão no fogo.

Bolsonaro disse que o Ministério Público foi contra a prisão do ex-ministro porque não havia, na opinião do presidente, materialidade para a prisão dele. Mas que a prisão serviu para desgastar o governo.

Bolsonaro afirmou que não pode levantar suspeição de forma leviana, mas voltou a dizer que se tiver algo errado na vida de Milton Ribeiro, o ex-ministro é responsável por seus atos.

Fonte: G1

Comunicar erro
LINK NET

Comentários