Com 44 anos de carreira, os artistas mineiros José das Dores Fernandes, 72, e João Monteiro da Costa Neto, 67, mais conhecidos como Zé Mulato & Cassiano, receberam com orgulho o reconhecimento. Com 12 discos lançados, a homenagem colocou o sorriso no rosto daqueles que ganharam, por quatro vezes, o Prêmio da Música Brasileira, como melhor dupla regional. "Nossa história musical é com Brasília, onde tudo começou, com a nossa primeira apresentação na Rádio Nacional", relembrou Zé Mulato.
Em 1969, a dupla veio de Passa Bem, Minas Gerais, para tentar a vida artística na então nova capital da República. "O meu primeiro emprego público foi na fundação educacional, em 1971, como pintor de parede, e, depois, fiz o concurso da Câmara dos Deputados, por volta de 2000, quando passei entre os seis primeiros colocados para trabalhar de segurança", descreveu o músico, citando o modão Sincero Convite como o som afetivo com a cidade. "Nossa Brasília merece/Mas ter uma melodia/Aqui entra todo dia/Gente de todo o lugar", diz um trecho da letra.
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), comentou do amor que os homenageados têm pela capital federal. "Parabéns pelo carinho do que representam a essa cidade e o que fizeram para a construção do Distrito Federal", elogiou Ibaneis.
Figuras que ajudaram a construir e documentar a cultura local foram lembradas. Entre eles, o diretor de cinema Vladimir Carvalho, 87, que dirigiu mais de 20 filmes. "Tenho tentado traduzir a nacionalidade de Brasília, que ecoa no Brasil a sua problemática social, econômica, que é resolvida aqui", contextualizou o homenageado.
Um exemplo de serviços prestados à cena cultural da cidade é o repórter e colunista do Correio, Irlam Rocha. "Eu me considero uma pessoa que contribuiu para as pessoas na área da cultura, passando por Renato Russo, Plebe Rude, Hamilton de Holanda e Ellen Oléria, gente de quem tenho orgulho de ter feito as primeiras matérias", destacou o jornalista.
No quesito entretenimento e vida social da cidade, mais figuras notórias foram agraciadas. O empresário Gilberto Salomão, 91, que dá o nome ao primeiro shopping do DF, soube bem como proporcionar momentos de descontração aos brasilienses nas décadas de 1980 e 1990, quando o centro comercial movimentava as famosas festas em boates, como a Zoom, Hyppos e Tequila Rock. "É uma tradição porque é o primeiro shopping de Brasília, inaugurado em 1967", relembrou o empresário.
Com medalha no peito, Jane Godoy, colunista social do Correio há 19 anos, destacou o papel da divulgação de notícias e bastidores de personalidades da capital. "Desde o convite, uma coisa que me levou a aceitar escrever a coluna foi apoiar os artistas, a cultura e a arte", afirmou a comunicadora.
Importantes ações de auxílio social, que se destacaram durante a pandemia, também foram citadas no evento por meio de seus agentes, como o ativista social Rogério Barba, 50, criador do Instituto Barba na Rua, em 2015. O coletivo ajuda pessoas em situação de vulnerabilidade social. Para ele, que esteve por 25 anos em situação de rua, de 1989 a 2014, a medalha reconhece a relevância do trabalho feito com essa parte da população do DF. "É o reconhecimento do Estado para com o instituto, que tem ajudado as pessoas a saírem da rua nessa pandemia e, o principal: discutir a política pública da população de rua", disse Barba, orgulhoso.
A reitora da Universidade de Brasília (UnB), Márcia Abrahão, também compareceu à solenidade e, em sua fala, rememorou o quanto a criatividade da cidade está vinculada à universidade. "Celebrar a existência da moderna capital brasileira é comemorar a criação humana e sua capacidade de inventar a vida em novas formas, com novos conteúdos. É isso também que faz a instituição que tenho a honra de dirigir há cinco anos e meio, esse lugar de encontro de pessoas das mais diversas origens, dos mais diversos matizes e cores, das mais amplas e incríveis capacidades", disse.
Para ela, as duas, cidade e universidade devem estar sempre em sintonia, já que fazem parte do passado e do futuro de uma construção. "Brasília e sua universidade pública federal precisam estreitar cada vez mais laços, porque são parecidas na vontade do projeto original, são semelhantes no desejo do desenvolvimento pleno e interior do país, são muito próximas no gesto primeiro do arquiteto em criar beleza e espanto na prancheta, traços que se transformam em vida, linhas que viram realidade concreta, decisões que afetam toda a Federação. Nos seus 62 anos, nossos sinceros votos são para que, neste momento difícil e sensível por que passamos, Brasília se junte ao slogan de 60 anos da Universidade de Brasília: 'Atuante como sempre, necessária como nunca'", complementou. A UnB receberá uma homenagem no próximo dia 25 deste mês.
Ainda pela manhã, no plenário do Senado Federal, ocorreu uma sessão especial requerida pelos senadores Izalci Lucas (PSDB-DF) e Leila Barros (PDT-DF) para celebrar os 62 anos de aniversário de Brasília. Parlamentares e convidados também relembraram outros nomes, como Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Bernardo Sayão, Israel Pinheiro, Joaquim Cardozo e Ernesto Silva, além dos candangos, trabalhadores de outras partes do Brasil que contribuíram para a construção da capital. Presente no evento, André Octavio Kubitschek, bisneto do ex-presidente Juscelino Kubitschek, discursou e lembrou que o planejamento pensado por JK era para que o país saísse do subdesenvolvimento com planejamento e pela via democrática.
"Meu bisavô disse certa vez que era necessário a realização de uma nova dinâmica política no país. Brasília seria o pólo irradiador de desenvolvimento do Brasil, o que se tornou possível graças ao famoso Plano de Metas. Estava ancorado no estímulo à indústria nacional, para gerar empregos e riquezas; construção de estradas para o escoamento da produção; hidrelétricas para gerar energia abundante; educação para uma maior instrução, crença nas futuras gerações, e por fim uma produção de alimentos que abasteceria toda população. Um plano cujas bases foram executadas em cinco anos de mandato, num governo democrático, aberto ao diálogo e respeitoso aos três poderes da República", explicou.
O bisneto de JK também destacou os perigos do regime oposto à democracia, a ditadura. Por meio da lembrança da história do bisavô, ele relatou como foi a agonia da família em ser perseguida pelos militares, principalmente quando, inconformado com o desmonte, JK decidiu ser membro da Frente Ampla, movimento voltado para a redemocratização do país. "Quero ressaltar que muito mais que uma palavra bonita a ser jogada ao vento, democracia é uma ação conjunta, pautada na liberdade política, no respeito às instituições. Quero destacar e reavivar a importância da história nacional e do grande estadista JK, que proporcionou aos brasileiros o orgulho da sua capacidade de realizar. Um Brasil inovador, moderno, democrático e livre", ressaltou.
Fonte: Correio Braziliense